Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2009

EU FALO O QUE?!!?!

- Ah, vocês falam brasileiro né - Brasileiro é muito parecido com espanhol? - Fala alguma coisa em brasileiro - Como é ... em brasileiro? Se mais alguém supor que eu falo BRASILEIRO ao invés de PORTUGUÊS eu avanço em cima. Sério, que burrice descomunal. Se fosse pelo menos uma ou duas pessoas, gafe aleatória, mas porra, um país inteiro? RUSSIA: INCENTIVANDO O ESTUDO DE GEOGRAFIA! fuck, hoje eu não tou pra isso.

Saudade

Caminhando em pleno outubro sob -2 graus, lembrando de pessoas inesquecíveis. Nisa, Kensou, Maísa, Sassa, Carol, e a lista continua com o meu passo rápido de quem morre de frio. Quem canta na minha cabeça é Seu Jorge, num ritmo confortável, brasileiro. Às vezes pode parecer que eu não dou atenção pra todo mundo, ou que eu sumo, mas eu não esqueço de vocês, nunca, na verdade eu lembro o tempo todo, e eu choro de felicidade por ter vocês na vida. E isso é mais difícil do que eu pensei, do que eu jamais pensei, mas eu vou em velocidade constante, vou indo, vou indo, e nem que eu quisesse deixo vocês pra trás.

Logo

Querendo embarcar logo. Eu falo do "logo" de quem tem sede. Faltam quatro dias, não sei exatamente se eu deveria estar ansiosa, acho que não mais, agora eu só tenho pressa por alguma coisa que eu só descubro quando a pressa acabar. Viver nos próprios sapatos é mais complicado que se pode imaginar, ter uma vida regulada e aparada pelos pais é muito conveniente, acontece que temos pés, que são dois, e a independência é uma conseqüência de se estar vivo. Tenho conhecida gente realmente notável por aqui... Italianos, espanhóis, lituanos, canadenses, chilenos, americanos e tenho experimentado esse sentimeneto de satisfação e plenitude que eu não tenho tido desde Burlington, não sei se me culpo por não ter tido isso em Fortaleza ou se me glorifico por ter voltado à linha do trem que me leva aonde eu quero. Tenho tido alguns perrengues, e que não seja surpresa, eles existem em qualquer lugar do mundo, mas mais alegrias, em todas as línguas que se pode imaginar. Eu criei essa rotina

A saudade fresca

Quando eu era menor eu sentia esse cheiro de vez em quando, era um cheiro sem cheiro, algo limpo, puro. Os intervalos entre um cheiro e outro eram cada vez menores, eu estava provavelmente embreagada dessa coisa que me animava. E o tempo que é o tempo, fez o tempo passar e o cheiro foi se tornando cada vez menor, até que um dia em Burlington eu voltei a senti-lo, era quase como me deixar acessar tudo o que eu deixara pra trás já com nove anos. Eu tenho sido uma mestre em despedidas, se alguém me perguntar, desde os nove anos, por aí, e eu lembro de ter chorado no telefone falando com a minha avó, querendo ir pro Brasil, foi estranho, eu sempre fui uma criança muito fechada e talvez por isso a única amiga que eu trouxe da infância foi a Carol, depois a Samantha, e eu nunca tinha chorado por ninguém, nem quando eu ralava o joelho do jeito como as crianças fazem, e o metiolate ainda ardia. Então eu estou aqui em São Paulo, amando muito essa cidade, que me lembra qualquer lugar que eu imag

Coisas que pessoas brancas fazem

Em 2006 eu comprei esse moleskine em Lucena e por um tempo eu escrevia todo dia nele, mas algo aconteceu e ele se misturou na estante de livros. Retornei a escrever nele, mas me diverti horrivelmente lendo as outras entradas, algo entre "Jânio Quadros era um louco que achava que era Jânio Quadros", um perfil psicológico de Hitler e Alex Delarge, uma carta a mim mesma falando de ambições e sonhos (que mudaram completamente), uma tentativa de entender a cultura baiana, um desenho do Big Ben e da Torre Eiffel (feitos com o modelo real), até o dia que eu descobri Destoiévski e desabafos de caligrafia ruim. Há uns dias atrás eu dei uma entrada que se chamou "Living is easy, leaving is harder", e o tanto é tanto que mesmo com uma puta dor por causa da extração dos sisos, essa coisa toda de pegar um vôo de 20 horas latejou mais que a Sra. Dor de Siso, e acredite, é uma senhora gorda e banguela que cria pássaros e fala oito línguas, algo que supere isso é muito, e muito é d

Os amigos, os sorrisos

Não está acabada a montagem, mas eu tinha que postar agora só pra constar que eu tenho os melhores amigos do mundo. Incrível, não? Colecionar os melhores sorrisos e levá-los para cruzar o Atlãntico... Os passos que eu andei até o embarque depois de me despedir do meu tio, da minha avó e do meu avô foi a estrada mais longa que eu andei, foi densa, pesada, e eu os olhei atentamente pela janela, e entendendo porque era tão difícil dizer tchau, diante de tanto amor. Quarta-feira, 2am, aeroporto... Home is where your heart is, and if the world is big, split it up.

Convite

To-do

1) Acabar de arrumar meus livros 2) Fazer a mala 3) Ir ao cabeleireiro 4) Comprar um sanduíche gigante para a minha despedida 5) Tirar os cisos 6) Comprar um livro de fotografia do Brasil 7) Comprar presentes 8) Comprar câmera nova Quem não for à minha despedida vai ler uma surra bem russa.

Keep it up, maestro

Somewhere around our last destination, maybe, we'll thank our fate anyway, only I wish that our homeland's transgression wouldn't be turned to an idol some day. Well, never mind, that's the way we are destined, such is our fate: now we feast, now we fight... Don't give up hope, hold it out, maestro, keep meditating and feeling inspired. Short are the years of our blithe adolescence off they will fly and disperse, in a flash... We’ve anything at all: smiles, joys and everything, one common moon for all, one summer and one spring. ...Like songs, years go by very quickly. I've changed all my views and my mood. The yard is too small for me, really, I’m going to leave it for good. (I listen to music on a low volume so no one else knows what I'm feeling) (I miss a man I didn't get to know, Dad) (I wish I could fall in love and get trapped like before, at least I felt something at all ... And you were right, I don't need lov

Pondo no papel

Hoje faltam 37 dias para o meu vôo, e se alguém quiser ir derrubar o avião, dizer tchau ou olhar de longe: 20 AGO Guarulhos – São Paulo/Madri 15:50/ 06:45 21 AGO Madri/ Moscou 10:25/ 17:15 E o que acontece com aquele tempo que eu achava suficiente ficar em Fortaleza pela última vez na vida? Se encurtou e eu nem fui ver. Eis o que acontece: Eu venho pra São Paulo dia 10 de Agosto, - 10 dias = 27 dias, vou pra Teresina ainda -10 dias = 17 dias restantes em Fortaleza. - This is it, it'll be over soon, Joely. - What do we do now? - Enjoy it. É isso. Eu nunca mais vou ter um Carnaval, ou um aniversário, ou um Natal no Brasil pelos próximos 8 anos, depois é mais provável que continue sem ter. Não quero mais escrever. Agora é webcam, skype, msn e isso aqui, porque eu vou estar bem ali, num outro mundo nesse planeta, e já foi. So long and thanks for all the fish, I'm glad we finally came to this. Chego em Fortaleza Quarta-feira de madrugada, graças à conveniência dos vôos em horá

O que fazer com aquela necessidade de ir embora e querer levar quem importa

[Não há exame de DNA mais preciso que essa foto] É inevitável comparar, realmente. Fortaleza vem me dando naúseas, já vinha, desde que eu pus os pés, fosse pelo clima, fosse pela mentalidade, pela falta de gente interessante (mas eu tenho certeza que as mais especiais eu guardei comigo até hoje). E eu sabia, sim, que o Sul era onde eu devia estar, pelo menos onde havia família, não em um Ceará sem almoços no Domingo e essas coisas que as famílias fazem, e por que eu exigia isso depois de voltar dos EUA onde não havia família at all? Talvez porque lá houvesse algo que encaixasse com o meu estado de espírito, e é uma sensação que me faz falta como um pedaço da alma. Mas eu pouco suspeitava que São Paulo me desse a mesma sensação, há 11 anos eu não convivo com meu pai, ou com a família dessa parte, e ter vivido isso antes de ir pra Rússia me faz ir com uma sensação de que eu vivi tudo que devia ter vivido, mesmo que passar esse tempo aqui em SP não tivesse exatamente na minha lista de to-

O círculo

Pensando muito ainda no sorriso da Heloísa, tentando empurrá-lo para longe e parando de querer isso exatamente quando vejo que é o que se leva, que é o que se leva... Fico montando a cena anterior à sua morte, por algum motivo consigo ver claramente a expressão dela, e em algum lugar ela agora se arrepende. Ninguém tem o direito de deixar o mundo, porque somos todos egoístas e falo principalmente das pessoas que iluminam o mundo, essas não têm qualquer direito de nos deixarem, elas são nossas, e sim, é cruel quanto parece. E vou adiando cada vez mais uma visita ao seu túmulo, com receio e muito receio de ir também ao túmulo do Paulinho. E como a minha Erin, protagonista o meu livro, eu vejo a história tomar papel na vida real: eu, cercada de um círculo de mortes. E os círculos são perfeitos, é isso que me incomoda, é um círculo e ele é perfeito, então, ele deveria estar aqui? Eu não quero perder mais ninguém ou simplesmente não ter mais. Às vezes isso me cái no devaneio e eu observo o

Para Heloísa

Ao som de Unwell , refletindo sobre o egoísmo que leva e ignora a vida away , e quantos foram os momentos que esse pensamentos me abriram as mãos e me disseram que eram os melhores abraços que eu ia ter, mesmo que fossem os últimos. Mas eu virei o olhar na hora certa e no outro dia, parecia a melhor escolha, se é que uma coisa tão abstrata que é a vida pode ser classificada como escolha. Eu não preciso amar todo aspecto para tomá-la para mim, no entanto, no entanto... Escolho amá-la. Então, querida, antes eu pudesse ter te feito sentar num banco que nessa imagem merecia ser gasto e de madeira e ter te dito que as cores só brilham mais se quisermos, não vale a pena esperar que o mundo mude. Então aceitando o abraço da morte, fez-se inútil a tempestade. E a última lágrima, que pra ti foi a última, foi apenas a primeira para todo mundo que já te viu sorrir e vai sentir falta da risada bagunçada sem motivo, sem causa, mas que era sem dor. O teu sorriso é o teu legado. Abraço-a pela última

Ready Set Go

Let's forget I'm running out of time...

Um trecho do meu livro "Tresloucada"

Finalmente resolvi tornar público um ou dois parágrafos do meu livro, que completou há pouco um ano, desde o primeiro rascunho mental até ao estranho processo de organização e finalmente o ato de escrever sobre esses personagens que me importunaram por meses a fio dentro do salão oval da minha cabeça. Foi ano passado que eu me perguntei, mais ou menos em Abril, "por que não? ninguém nunca disse que eu escrrevia mal". Desde os nove anos que eu venho escrevendo poeminhas, passei pela minha fase de criticar bastante, foi quando eu escrevi muito sobre politica, houve o Zine Trashcan, que eu tive a honra de dividir com a Maísa, inicialmente, mas acabou caindo no desuso já que a nossa linha de escrita já estava bem menos radical, era algo que escrevíamos para nós. Foi quando eu parti pras crônicas, explorei minhas idéias fixas, me apaixonei por Van Gogh, tudo ao mesmo tempo - eu já tinha quatorze anos. E como eu disse, foi ano passado que eu rabisquei minha cabeça de idéias, muito

Digesting

Sounds stupid, three fuckin years late to come and apologize and admit I was wrong. Well, I still am, I have been for three years side a side, put together in a soldier line... I remember back then we were in the car and this music playing and then, I feared. I feared once, I should admit, that you would leave it all behind, me incluided, but I played right with words and made you change ideas. So you did. Just we were never the same. And it said... "remember when we were such fools, just convinced and just too cool? What happened?". Maybe you didn't see a little drop showing up. Unwelcome. Rolling on my cheeks, finding its way and disappearing. If someone ever asks me to put in words of geometric forms what I felt back then I'd speak of a spiral, trying to become a circle, trying to become perfect, as we know it's what circles represent. And today, my dearest, I close the spiral and make it a circle, I know we had it all, we were in the same tune, just we lost it

Esperando Hugh Laurie invadir a sala de cirurgia

Hoje tá muito quente. Foi a primeira coisa que o Sol me falou. Ter que ficar vivendo essa coisa de dormir no calor me arruina o sono, além de ter que acordar de madrugada pra tomar seis doses de remédios em horas diferentes. Eu também queria sentir fome, ou até vontade de comer, mas é impossível. Oito da manhã, Segunda-feira:  - Vamos lá - a atendente nos guiou por uma rampa e me jogou na mão de uma enfermeira que tirou meu peso (1okg a menos que no começo do ano), minha pressão (que eu nunca sei dizer quanto é bom e quanto é ruim), e ficou fazendo meu histórico médico.  - Não, a única cirurgia que eu fiz foi pra tirar uma verruga. [...] Sim, essa é a primeira. Tentei parar de analisar a linguagem corporal das enfermeiras, tentando entender se elas gostavam do trabalho que tinham. O meu experimento foi interrompido quando me levaram pro Apartamento 02, onde eu botei uma batinha tosca, liguei a TV, tirei meu piercings fora, e ajeitei a cama com o controle. Eu podia muito bem ter escolhi

From Waytt to Henry

[going from Henry VIII's daring wishes (could have he been denied of certain desires only for being the King of England, oh, can't a man desire, for crissake?), to Anne Boleyn's guilty in the roll, jumping to Charles Bukowski, Van Gogh, Hitler and looking for my place in the garden of History] | Henry's love letter to Anne | Previous Note: Waytt was the last man in Anne Boleyn's life before Henry VIII, and the rest of the story I will trust everyone else should know. For she couldn't find in Waytt's poetry the purity she seeked, purity she chose to find only in noble blood. And noble blood, as known, rushes throughout the veins like no other, and its ones personal treasure, but poetry... Well, words rush in everyone's mouth, they can be arranged in every way by anyone. So which shall she have picked, dear Anne? Your mind, your presence, like no other, rushes throughout History as ones only treasure. Some might say you have mislead England's history

Dez coisas

A prisão branca que é uma sala de espera de médico realmente é coisa de fazer a pessoa mais higiênica roer as unhas de agonia. É uma selva branca, pessoas com olhos baixos, barulho de telefone. E então temos as revistas, e mesmo aquelas que - nunca - willingly compraríamos, é o melhor jeito de não ter uma ataque de ansiedade num ambiente tão podre. Ok, talvez eu só tenha um problema maior com ansiedade, principalmente quando a pílula da felicidade acabou. A primeira coisa notável é ver que todas as revistas falam da Crise, e que, definitivamente, eu não ligo pra isso. Pego uma edição da Revista Época de qualquer forma, do ano passado, e abro nessa página que a Sabrina Sato fala das coisas que todo homem deveria saber. Então pensando com os meus botões, resolvi debatê-las aqui, tentando ser o mais fiel possível ao primeiro pensamento que eu tive lendo pela primeira vez. Here we go. 1 - A primeira coisa pode ser os olhos, mas também olhamos suas partes baixas. Hehehe amor... Não entrega

Última vez

[Girassol que ganhei de aniversário da Catarina] Fazer as coisas pela última vez cria uma responsabilidade de que elas têm que acontecer do melhor jeito que elas possam acontecer... E agora, mais que nunca, eu faço, aqui, as coisas pela última vez e me preparo pra realizar tudo novo em um lugar completamente novo... Ou seja, é quase como querer escrever um epitáfio de memórias boas e motivações pra saudades, sem morrer, exatamente.  Não planejei nenhuma festa de aniversário, porque vou fazer despedida, e aí sim vou conseguir reunir todos. Vai ser em Julho. Mas é isso. Tá acabando.  - And what do we do now? - Enjoy it. Talvez "acabando" não seja  a palavra, "tornando mais real" seria o mais certo... Principalmente quando os casacos começam a ganhar espaço no meu guarda-roupa, junto com cachecóis (não sei nem escrever a palavra, nunca a usei ahahhah), botas, meias, moletons e blusas compridas. e também os abraços não são mais tão longos como deveriam ser, ou precisam

Cega por opção

[entrada do meu diário devidamente censurada quanto a portinholas da minha mente que são inacessíveis a todo mundo] Hoje eu sentei com o José Saramago, uma maça cortada em um potinho e comecei a comer os pedaços de maçã ao passo que as páginas iam ficando para trás, também. Não que José Saramago tenha gosto de maçã, mas é engraçado ver como a maçã ganha outro sabor quando se lê junto. É a imersão que o livro causa dando tempero às coisas. Enfim . Há alguns meses, desde o Érico Veríssimo cair na minha estante que eu não dizia Enfim  ao achar um autor decente, e eu disse Enfim e respirei logo em seguida, como se eu tivesse contido ar esse tempo inteiro.  Senta um menino do meu lado, um conhecido, de quando eu ainda tinha algum interesse pelo mundo e saía todos os finais de semana, achava que as luzes da noite me eram suficientes, que eu achava que as emoções se encontravam num poço sem fim, que eu as teria sempre renovadas pra sempre, até tudo me cair na mesmice e eu, como sempe, me obri

Fluoxetina

O mundo inteiro é bombeado por fluoxetina. Ora, palavra , pelo menos se vive, pelo menos se vive! Quando eles isolaram felicidade dentro de um comprimido não há porque não tomar, a essência de toda a ideologia ocidental não é a busca da felicidade? Então quando eles isolam a felicidade em um comprimido é o caminho mais fácil. Só que fica a pergunta: o que fazer com a felicidade? Acho que ninguém faz realmente planos para depois por julgar uma coisa tão longinqua. A minha proposta é que ao invés do inútil fluor, ponham fluoxetina na água. As cores vão ficar mais vivas e a audiência do Faustão vai cair. Digo: mundo melhor, sem demagogia, só com fluoxetina.

Estado de espírito com precisão de casas decimais

Era o meu primeiro dia de inverno. Era o meu primeiro dia de Costa Leste. Era tudo novo e eu ia absorvendo as emoções e moldando um estado de espírito que deveria resistir ao frio, às nebrascas e observando atentamente os flocos de neve geométricos, a perfeição da natureza e tentando, nem que sob ordem judicial, me convencer de que, por que não, eu fazia parte daquela harmonia. E tinha essa tampa canadense. E todas as crianças queriam saber quem eu era. Eu sou brasileira, oi, tudo bem, é meu primeiro dia na Fountain Woods. E tinha essa tampa canadense no chão, que insistia em aparecer debaixo de tanta neve e eu ignorei a nebrasca e tudo que existia de vivo e ficamos eu e ela, envolvidas em um desses momentos da infância que as emoções constituem as memórias e não as imagens. Guardei-a no bolso e peguei o ônibus da escola. O motorista queria saber sobre mim, entre mil papéis colados pelo ônibus com 330 "THINGS YOU CAN'T DO IN THE SCHOOL BUS: NO YELLING, NO... NO... NO...",

Escutando o tempo...

Hoje eu sentei, posicionei o pulso esquerdo e fiquei assistindo o tempo passar, vendo o ponteiro deslizar e indo "cada vez mais perto, cada vez mais perto". Eu quero a vida que é minha e que reside em Agosto. Parecido com aquela vez que eu estava em Pompéia, e eles diziam que o mundo ia acabar em Julho, com o World Jump Day porque o impacto ia ser muito grande, e eu estava nesse restaurante, comendo um dos pedaços de pizzas responsáveis pelos dois quilos a mais, e quando eu olhei para o relógio, esperei a terra abrir no meio enquanto eu caía com o meu pedaço de pizza dentro. E eu lembro como a luz italiana entrava no restaurante e como a mesa era redondo e eu me sentava em um canto mais reservado... Nada aconteceu, as previsões não se confirmaram. Mas o episódio me marcou porque teria acontecido em Pompéia, a cidade engolida pelo Vesúvio, e seria uma honra morrer ali. [Foto: Pompéia] Depois eu acabei a pizza, continuei a vida com uma sensação de renovação e novos valores, ent

Paz

Bem, paz não consiste em evitar a vida, achar paz não consiste em evitar vida. Paz é estar em concentração isotônica com a vida. Então que as funerárias levem em conta a proposta e parem de pôr Paz no nome. Eufemismo e trocadilhos são coisas do século passado, esse é o século do Sarcasmo. Paz não é estática. Uma mesa não é estática, é uma loucura de átomos se reagrupando, etc etc. Não existe sintonia nem em uma mesa, talvez até exista paz no Tibet, mas é mais provável que seja uma ilusão, eles vivem sempre presos a própria mente, é muito fácil. Realmente muito fácil. E se o amor é só um monte de hormônios, há de se convir que a paz também deve ser. Um hormônio que possivelmente só é ativado nos tibetanos, e foi isolado em um laboratório por monges que clamam, nesse momento, estar meditando. Eles mentem. E para nós, ocidentais que só comem sushi à noite: paz é uma coisa quase alcançável durante o sono. Mas basta pegar as estatísticas e ver que quase todo mundo tem insônia. Ou simplesm

Chegou a hora, Joaquim

Então eu me fiz de pé, caminhei até o canto da parede do meu quarto, Gemma Hayes cantava At Constant Speed, eu tinha uma garrafa de água na mão, eu bebia, e caia mais lágrimas, fechei os olhos, descarreguei o peso do meu corpo no canto e depois disso, mais nada. And it all comes to me right now... Like a starving dog crawling for attention. E do nada, a Yasmin, que eu não vejo há 8 anos, bate a porta do meu quarto, eu deixo o meu canto e me arrasto até lá, sem dizer uma palavra, ela me abraça e eu penso: obrigada, eu já ia cair no chão se alguém não me segurasse. - Tu ainda lembra de mim? - É lógico que eu lembro, Yasmin. - Que bom, eu tava com saudades. And the thing about destiny is that it never ever makes mistakes... E eu continuo, volto pro canto e reinicio o processo. Obrigada, pai. Pela parte da minha existência e por todo o vasto resto. E se eu pareço essa pessoa forte, às vezes eu tenho a certeza que é fortaleza de cal. Outra coisa sobre os arianos é que eles engolem o choro p

Metódica

Eu ri bastante quando entrei no Stuff White People Like e tinha um post sobre moleskines, que por acaso eu tenho, comprado na Suiça sem motivo algum, acho que porque já tinha ouvido falar sobre o valor histórico que eles tinham e como Modigliani tinha um. É realmente útil e lá eu congelei algumas idéias fixas, desenhei o Big Ben, a Torre Eiffel, tentei descrever coisas indiscritíveis mas de alguma forma, um dia o guardei na minha estante de livros e ele caiu no esquecimento, de forma que eu nunca mais escrevi nele. Eu tenho esse problema que eu sou metódica, e vou logo antecipando que ser metódica não implica em ser organizada. Ser uma pessoa organizada exige um esforço, mas quando você é uma pessoa metódica não existe esforço, existe apenas o fardo, que é o esforço que se aproxima muito da obrigação, como se não existisse outra escolha. Ser metódico custa muito mais caro que ser organizado. O metódico precisa organizar os pares de meia em degradê, o organizado, precisa simplesmente or

Girassóis de Cardiff

Abençoei o início do dia com café: não havia rezado antes de dormir, não o fazia há sete anos. Nenhum remorso, nenhuma dívida. Tomei o primeiro gole e olhei pela janela: o Sol brilhava debaixo dos meus doze girassóis. Arrumei a bolsa e embarquei no portão B para a realidade, enquanto o elevador descia, a realidade ia me fazendo lembretes. Lembrentes de um mundo. Não, eu nunca fui do tipo Bono Vox/Angelina Jolie que ajuda a Africa, muito pelo contrário, aliás, nem sei se a minha opnião dá cadeia. De qualquer forma, o lembrete não era que as pessoas tinham fome, não trabalhavam ou se trabalhavam, era em regime escravo numa fábrica de sapatos nas Filipinas; o lembrete, o que eu queria ver, estava estampado em papel post-it na testa de todos: a auto-convivencia, a hipocrisia, a submissão, a ambição cega por alguma coisa que não se sabe ao certo, que já deveria ter sido alcançada dez mil vezes... Finalmente ganho a rua. O mundo ainda parecia estar na sola do meu pé, quanto a isso, ele tenta

Transbrasiliana

(foto: Mãe e Pai perdidos em algum lugar da Europa) - Antes de você ir embora, venha passar mais uns dias aqui. Eu vinha trazendo minha mala e uma mochila e quando meu tio me ajudava a botar as coisas no carro minha vó disse isso. Ir embora é uma palavra que ganhou forma vindo dela e sinceramente, me corroeu o caminho inteiro. Eu bem sei que muita coisa não vai mudar, quero dizer, eu sempre passo, afinal, um mês na casa dos meus avós todo ano; e eu sei que vou passar férias no Brasil todo ano, mas parece que a idéia sozinha de ir morar na Rússia é que cria essa distância que não deveria existir. Enquanto eu tava em Pedro Segundo com os meus amigos, na serra, ficava me passando o tempo inteiro conservem-se assim, conservem-se assim pela cabeça. E que droga, parece que só por esses dias os números tomaram forma: não sei se ainda estou na casa dos 170 mas depois vem 160, 150... E aqui vou eu. Que agora vou ter que ficar cruzando o país o tempo inteiro porque meu pai se mudou pra São Pau