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Mostrando postagens de 2013

Hoje joguei um tanto de coisa fora

Hoje joguei um tanto de coisas fora. Umas partes de mim que eu não queria mais. Aquelas folhas da história comidas por traças, que já não se lê, algum dia houve algo grandioso escrito aí - dos méritos, das quedas, em letra bonita, dourada. Hoje eu joguei um tanto de coisa fora, mais porque sei exatamente do que preciso. Porque eu vivo de pessoas, não de coisas, e os primeiros – quero não muito longe, perto o suficiente . Eu vou reciclar a minha vida inteira. Mas vou te manter intacto, com os teus defeitos, as tuas manias, até o que me irrita, as tuas faltas de várias grandezas de caráter. Assim. Porque eu te encontrei assim: defeituoso, antes de tudo vivo, meu, eu - tua. Hoje eu joguei um tanto de coisa fora . Hoje durmo em paz.

Um telegrama de Moscou

A todos os "como é que andam as coisas por aí" e a impossibilidade de replicar uma resposta que caiba em uma conversa de elevador - não cabe: eu expando. Licença poética para expandir - Como é que está aí - Aqui está tudo sendo A nossa órbita gira em contra-mão Vamos além do tempo Sem permissão de ser Ainda assim: sendo (teimando) Só do ar gelado Até o chá repetido Para aquecer a alma e outras vontades Eu não te passo O que é, como é Só te digo: estamos sendo. Outro dia nos cruzamos E pelos novos trejeitos Pelo inédito sorriso que agora alarga mais (perfura a cara) Pelo abraço mais forte que todos os anteriores (juntos) Você vai ver Como é que estive sendo O tempo a distância desfiguram (a nós) montam de novo mexem-se juntam-se no caldo da vida tempera de novo Sái um bicho novo Um bicho melhor pior Calma sou eu continuo sendo.

A study of human behaviour as a rational insightful machine. A doctor's most important lesson.

Earlier this year I was diagnosed with a chronic disease, that is, something I will be carrying around until it takes me down, or takes  the possibility of doing something of my life I had planned and now I need to hurry - running out of time? Sadness, denial? Maybe, but what the hell, mostly: it is incredible how the possibility of death or the simple barrier between you and your dreams make you alive. Life gets more colorful. You smile more, god knows when you'll cross that person again, or see that place again. Maybe next time you won't be in a good shape at all, let it be in 60 or 80 years, whatever. What do you know? I thank the threat of death for making me see life brighter. My biggest fear of dying asking myself "what if" has been cross checked. Life's good, I don't feel betrayed by it, I think it gives me a chance. Thanks, I'll take it. That's all there is.  I'm not a very dramatic person that makes a big deal out of stuff and maybe thi

O homem que salvou a palavra do silêncio

Antes da palavra, existia o silêncio. A palavra foi criada no silêncio. A palavra é constantemente ameaçada pelo mesmo. Dedico esta publicação ao homem que salvou a palavra da mudez, porque a palavra dói, e ela sozinha não quer existir porque é árduo ser a palavra. Por isso nada a substitui. Ela simplesmente se empresta à gente, e enquanto faz isso nos ameaça todo o tempo: se me vou, vocês serão animais - diz - se me vou, vocês serão apenas o ser, e o ser sozinho não é nada, o ser precisa da extensão. A palavra não é de ninguém, ela sozinha é dela. A palavra se empresta, é diferente. Mas a palavra nunca se cala, ela é tão  presente que é impossível deixar de sentir-la. Mas eu sei de uma coisa: eu prefiro toda a crueldade da palavra ao silêncio. O silêncio é nada, o silêncio nos estagna. O silêncio apaga línguas da face da terra, o silêncio apaga culturas: a palavra é a cultura, a palavra é toda a história. Sem a palavra, sobra o vão. Eu tive um sonho terrível de que ele não exi

Não tenho mais o tempo que passou

Mas temos muito tempo, temos todo o tempo do mundo , cantava o meu alarme às 8 da manhã, e sair para um mundo com uma temperatura negativa não era um incentivo, a única coisa que eu levara em conta fora o tempo que eu estava perdendo, apesar de ter todo o tempo do mundo. Eu juntei umas coisas, comi e saí de casa, poderia ter ficado. Eu esperei o sinal abrir para cruzar a rua, poderia ter continuado andando sem calcular v=s/t. Eu fui seguida por um cachorro que era um desses cachorros que anda sem coleira, continuei o caminho, ele do meu lado, subiu em uma montanha de neve e ficou ali, eu poderia ter perdido a aula e ficado ali, também.  Eu passei o meu cartão, entrei no hospital e disse bom dia, eu poderia ter passado por debaixo da catraca e ter me focado em não expressar nenhum sentimento de afeto. Eu vesti jaleco, eu troquei os sapatos, eu fui para a sala, abri os livros, eu poderia ter entrado de sapato sujo e ter dormindo com as pernas cruzadas em cima da mesa.  Eu e

A arte de sobreviver na medicina

De ida ao Museu Pushkin de Arte, agarro meu moleskine de 7 anos de idade, suiço de nacionalidade, de uma viagem a Lucerna. Aí estão reportadas todas as minhas versões em distintas partes do mundo, ou apenas minhas versões imóveis que seja, sedentária, em alguma parte do mundo. A última entrada é sobre a ansiedade de entrar na faculdade em 2011, do que não se sabe, do que se vai aprender, tudo cheio de simbologia, Saramago, perguntas. Um se põe a ler e não se reconhece: e isso passa todas as vezes que abro esse moleskine - uma pessoa o fecha, e meses depois outra pessoa o abre, sendo que são as mesmas mãos! Será mesmo que esse fenômeno vai seguir sempre? Será mesmo que as visões e as perspectivas mudam tanto, será que é possível que um passe a vida inteira crescendo e não se exploda porque já não há espaço no mundo (ou nas limitações da carne)? Se for, quantas vidas vivemos em uma  Hoje a minha visão sobre a medicina é totalmente outra, e é a seguinte, sem medo a digo: todo médico pre