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Mostrando postagens de dezembro, 2010

Ser circular é difícil

Desgraça, eu disse, me enrolando mais nos lençóis, como se aquilo fosse me prender mais a cama e eu não tivesse que levantar, que desgraça, repito, e pratico um ato de auto-mutilação com pouquíssimo efeito, já que é contra a cama. Saio de casa, coisas na bolsa, e toda a coragem necessária para enfrentar o Sol do Ceará ao meio-dia. Ora, ao menos venta, Rianne, eu me conforto, já que há um mês atrás passei um tempo com os meus avós no Piauí e foi no mínimo panque, minha gente. Por que eu não sei do resto do mundo, mas eu gosto dos banhos que têm prazo de validade de refrescamento de pelo menos uma hora, não gosto quando saio do chuveiro e já começo a suar, e nada realmente concreto consegue vir a minha cabeça ou substituir o pensamento de "QUE CALOR, QUE INFERNO, POR QUE?". Pelo menos venta, continuei. Perdi o ônibus, aparentemente eu tinha que fazer sinal e estava burra e recém-acordada demais para conseguir funcionar. Esperei mais vinte minutos pelo outro, enquanto fazia pequ

Eu vou consertar sua cabeça.

[Estado de espírito: natalizado e gordo] [Escutando: Stomach, Current Swell ] [ Corretores de joanete, tunando o seu pé desde 1980 ] Talvez eu perca a sanidade. Hoje. Alguém tinha levado um tiro. Tráfico de drogas. Gente que usa bigode. Gente grande. O trambolho debaixo do meu pé, a bala. Afastei o pé esquerdo e a bala ficou entre os dois pés. Estado semi-acordado de consciência. E os olhos que acordam num domingo às 8 da manhã, sentindo os aparatos de silicone para a joanete. Eu estava na aula de alemão quando ela me puxou pelo braço, sem escrúpulos quanto a professora e quebrando o clima que as aulas de alemão têm. Ela sempre falava perto demais, doce demais, gentil demais. Foi ali, me encurralando naquele corredor que ela disse que seria bacana falar para toda a escola, na sessão de línguas estrangeiras, um pouco sobre mim. E em cinco línguas, bem bacana. Entre todas as coisas que se podem acontecer num Domingo, entre todas elas o destino me reserva a tarefa de contar para o mundo,

Fueda-se.

Mas minha senhora, eu disse, eu tenho que embarcar, não é simplesmente uma vontade! Ela, alta demais para uma mulher e obesa, branca e com o cabelo super claro, eu diria albina, mas a fenótipo dela me importava ao mínimo naquele momento. Acho que eu não estava sendo clara, então me repeti. Que diabos, pensei, por que parei em São Paulo só para comprar um livro? Qual o meu problema? Eu poderia ter pedido essa merda pela internet. Por algum motivo eu estou em Madrid e tenho que embarcar de um PORTO? E não de um AEROPORTO? Ok, isso está offly wrong. NO SHIT. ... Acordo, suada, meio perdida na definição de um pesadelo. Os meus, pessoalmente, sempre envolvem logísticas e conexões em aeroportos, olhares de impossibilidade vindo de funcionários, um longo suspiro e a desistência da vida. Se houver por aí, minha gente, uma Síndrome do Pânico a Logística Aeroportuária, ela é toda minha. Lembro que tentando chegar ao Brasil em Julho, quando saindo de Moscou, e aliás, nunca contei essa história p

A festa é de Jesus mas vim de penetra

Há um ano atrás estávamos em Kamensk-uralskiy, uma cidadezinha russa próxima aos Montes Urais, faríamos estes snowboards de papelão com uma sacola em volta nessa descida ridicularmente infinita, lembro de sentar lá no fim daquela montanha de neve e pensar que isso é felicidade, e quando eu despensei, já não era mais, um momento e já foi. Nós cantávamos canções de Natal em pelo menos cinco línguas diferentes, e ninguém nunca mencionou Jesus, ali éramos nós, usando a desculpa do feriado. Nós jantamos ao ar livre quando fazia cerca de -20 lá fora, comíamos rápido o suficiente para tudo não virar uma pedra de gelo, ao mesmo tempo que corríamos para a fogueira que tínhamos feito. Eu posso lembrar de cada detalhe, do karaokê horrível, do espelhinho do banheiro. Um ano depois, em solo cearense, estou caminhando pela Beira-mar, quando resolvo que tenho que entrar por essa ruazinha, para ter certeza que eu tive o suficiente de um dos meus bairros de infância antes de partir, antes que eu vá e n

A alvorada e a suficiência de sua duração.

[ Entre todas as coisas deslocadas, um Van Gogh deslocado sempre parece estar em harmonia, sendo o único na categoria das coisas deslocadas que tem harmonia, e nesse caso, dois Van Goghs ] Às cinco da manhã, o estranho sono que me acometera às oito da noite, já alimentado, satisfeito consigo e arrotando, me acordou num horário que as pessoas só acordam para tirar leite de vaca, e os gritos bêbados da juventude numa rua vazia, na alvorada do dia, foi o suficiente para me acordar, perfeitamente audível do décimo segundo andar graças a qualquer desgraça que exista nas leis da acústica. Não esculpo só perfeições, e diferente dos gregos antes de Lísipo, acredito demais nas imperfeições e gosto dos seus retratos, e os gritos bêbados conectavam-se devidamente às imperfeições e à realidade, que é minha e não tem planos nem uma via expressa para a perfeição. Somente a poesia inteira que a palavra "alvorada" carregava sozinha parecia perfeita, à frente do Sol, atrás dos prédios, um bre