Pular para o conteúdo principal

De volta (se um dia eu cheguei a ir)


[Estado de espírito: de bikini sob -4 graus, e além]
[Tocando: trilha sonora de August Rush]



Pensando comigo porque negros sempre são hábeis para cantar, enquanto a trilha sonora de August Rush toca no shuffle, depois de uma semana de muito Jonathan Rhys Meyers, durante a qual, a Sra Que Acaba de Baixar o Bittorrent baixou a filmografia do mesmo. Mergulhou e não falou com o mundo durante uma semana. Ainda não muda os critérios para gostar de um filme: pro inferno o roteiro, o que eu quero saber é quem está no filme.

Folheando as páginas da Esquire no Kafe 12 com o Zack, Alice e Katie, "the guy gets what he gets", continuei folheando as páginas onde o Mister DiCaprio falava sobre aquecimento global, "he gets go be fuckin rich because every single movie he's in turns into gold, not because he has this magic golden finger, but because the guy can act, we owe him that much". E a conversa continuou, questionando os engajamentos ambientais-revolucionários do Mister DiCaprio, quando de repente, não mais que de repente, Garota de Ipanema começa a tocar. A Brasileira acha tudo aquilo zamechatelno¹, continua bebendo o seu suco de maçã, fresco como a morte da Branca de Neve (tentando conectar Branca de Neve e suco de maça: system failure).

A Brasileira pensa, "ah bem, The girl from Ipanema walked em todos os cafés do mundo, it's not that much, really". DiCaprio, suco de maçã, vira a página, mais peixinhos no mar... E xazêm, a próxima página me mostra o absurdo do absurdo que só existe na 87a dimensão: O papa jogando pinball, o papa tirando dinheiro de um caixa eletrônico, o papa pegando um refrigerante numa Máquina de refrigerantes - tudo isso dentro do vaticano, Zack tem um ataque de riso em meio a uma sopa de brócolis, a coisa se espalha, de repente todos estão morrendo sem ar. "Puta merda mano", saiu, em português, quando isso acontece, eu me vanglorio de mim mesma, me dou um abraço com tapinhas mentalmente e digo "muito bem, parece que ainda temos uma língua materna²". Mais uma série de tapinhas.

Água de beber, água de beber... Começa a tocar. Que porra é essa? O que há de errado com as ordens das estrelas hojes? Quantos planetas se alinharam? Apocalipse, Papa, eu disse, A P O C A L I P S E.Que porra é essa?



[Os cavaleiros do apocalipse vão atrás do Papa]

No mesmo dia, depois de um plano frustrado de assistir Alice no País das Maravilhas e uma volta pelo Museu da Karla Marksa (isso mesmo, e ainda tem a rua Lenina, e todos os clichês socialistas imagináveis), onde eu comprei (aqui eu quase escrevi "kupei"³, conjugando um verbo russo em português, vai, guria, corre pro abraço, agora, vai.) cartões postais que nunca serão mandados e irão direto para a minha coleção.

Nas próximas horas nos encontramos com o Parlamento da Juventude, onde Boris (pronuncia-se Ba-rís em russo) discutiu conosco um projeto para mandar para a Duma ("parlamento") de Kirov. O Parlamento da Juventude é um grupo de advogados-estudantes que dão voz a juventude russa naquele prédio de arquitetura clichê grega perto da universidade naquela rua que eu descobri outro dia que chama-se Krasnoamerskaya, sim, sim, esse mesmo.

Boris é uma pessoa a se conhecer. E no meio da minha eloqüência de quem pode falar sobre política por horas - a filha de políticos, - e da dele, passaram-se 3 horas, em russo, o assunto tinha inclinado-se sobre como nos, Heróis de Pátria, lemos Guerra e Paz, mas hurray para a Brasileira, que leu em russo (foto). Obrigada, estou comovida, parem, garotos. O tema, enquanto eu parei para dar uma olhada na janela para ver a estrada e larguei o volante, mergulhou em apocalipse e 2012, quando peguei na direção o desastre já estava feito. Os russos amam achar que o mundo realmente vai acabar em 2012. A Brasileira pouco crê, pouco crê.



[Tolstoi te despreza]

Sim, garotoS. Havia ainda três, e um que acabou de chegar, meio sem jeito, tentando pegar a conversa no meio do percurso. O projeto não vale a pena comentar não foi exatamente o lucro da noite. O lucro da noite é que se conhece pessoas inteligentes e conversáveis e eloqüentes naquele prédio na Krasnoamerskaya. Eu e Boris nos encontraremos novamente para uma conversa com abas e sentidos, e política. E em russo... Bom saber que existe vida inteligente lá fora. Daquela que, até na Rússia, não consegue confraternizar e dizer bom dia à burrice que deve-se a idade de seus colegas de sala.

Ainda agora. Com uma sacolinha com pasta de dente e escova de dente, o meu talento me levou até o fim da Profsoyuznaya, quando a porta do ônibus fechou na minha frente fazendo-se em vão minha corridinha de obeso até a saída do ônibus. Merda, cacete, catzo, SHYORT. Fui parar no fim do mundo, e agora eu estava apertada entre alguns rapazes bêbados e o meu talento de se perder, sob qualquer circunstância. Dizem os rumores que eu tenho PhD, quanto aos fatos, parecem que não me negam o título, realmente.

No meio do nada, depois de ter cruzado uma ponte que eu nunca vi na vida, vi uma parada de ônibus que deveria me levar para casa. Olho a hora. Só um ônibus ainda passa. O número de sorte é 21. Vamos, 21. Vinte e um. Dvadzt odin. Um carro pára. Mas puta merda, pragueja. Pelo menos fazem -4 graus e isso anima os meus ânimos, vestidos de bikini, depois de uma temporada em Perm sob -45, volta-se para Kirov com um começo de Primavera que chegou a esquentar a zero graus. Foi o dia mais quente da minha vida, voltei para casa suando feito um porco, como os porcos suam (e soam).

14. Quatorze. Que mal faz o 14? Entro no ônibus. Vai cortando a cidade. Engraçado esta merda ter cruzado a exata rua que deveria entrar. Muito engraçado, mas escuta, 14, eu vou te dar uma chance e eu sei que por algum beco você vai acabar na Rua Lenina, desgraçado. Ele se ofende. E ele nunca foi parar na Rua Lenina.

Com a minha sacolinha com pasta de dente e escova de dente, desço na Gertsena, derrotada, puta da vida, feliz com o clima, fazendo bows para o meu talento de se perder, passando por um Yorkshire vestindo blusinha e um casal que sái as 9 da noite para passear com o Yorkshite vestido de blusinha.



[Aos Yorkshires que vestem blusinha.]

Quem canta na minha cabeça é Jonathan Rhys Meyers, "This time", chego em casa, faço um mingau, preocupada com o jeito que minhas pernas já se perdem dentro das minhas calças, procurando "sustança" (essa é pra minha avó) para dar um pouco de matéria prima para se fazer pernas. Deixo a sacolinha no Hall, e ficamos eu e o meu kasha*, quando eu ligo o computador e escuto a trilha sonora de August Rush (para quem já quebrou um Ipod, perdeu o segundo, musica agora só no computador - you get what you get), que é onde eu comecei a escrever, agora, realmente.

É bom estar de volta em casa depois do incidente 14, é bom estar de volta ao blog, ou seja lá o que for que esse estado de espírito do tamanho de uma frase (normalmente cabem dentro de uma palavra só) signifique.



Declaração/Homologação aleatória do dia: Os mesmos criadores do cassino criaram o pinball para garantir novos clientes, observa-se o design da inocente máquina e logo se vê.

E você, querido leitor, quantas vezes se perdeu e quantos vezes já viu o Papa jogando pinball, ou quantas vezes se perdeu depois de ver o Papa jogando pinball? Ahr, será que foi castigo do além?

Foi.

Castigara-me, o Satanás.

Chega de eloqüência, pontuo aqui.



Dicionariando
¹Zamechatelno: do russo, notável
²Língua materna: é a primeira língua que toma frente quando o mundo precisa ser xingado, é a única língua que você saberá a palavra "licranço".
³Kупить (покупать): Я куплю, Ты купишь, он/она купит, мы купим, вы купите, они купят (verbo Kupit' do russo, comprar)
*Kasha (каша): do russo, mingau.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RIANNE (eu,ich, ja, I, yo), A COLONIZADORA.

Toda criança normal tem como lembrança normal algum parque ou algo extremamente colorido. A primeira lembrança que eu tenho é de um corredor de hotel, uma janela no fim. Depois... Perguntaram-me em New Jersey se o que eu falava era brasileiro ou espanhol, peguei a bicicleta, achei graça e ralei o joelho - não exatamente nessa ordem, mas nada que me impedisse de ir comprar comida chinesa em caixinha do outro lado da rua, eu sempre kept the creeps quanto à vendedora, ela era alta demais pra uma chinesa. Foi nessa época que criei um certo trauma em relação a indianos, o acento indiano é um negócio a se discutir - parei de comer dunkin donuts. Era uma máfia, em todo Dunkin Donut e posto de gasolina só se trabalhava indiano. Admito que só fazia ESL pra perder aula, mas o mundo inteiro precisava sentar em um teatro e ver a cara da Miss Rudek, quando eu, o Hupert (chinês), e a Katrina (mexicana) passamos a ser crianças sem línguas maternas: Havíamos aprendido duas ao mesmo tempo, com um empur

Purple crutches

“I wish you a great future”, then she gave me her hand - similar to a peace offering. She had a simple case of a stomach ulcer, I had patched her up around 3am in our ER, I had simply asked her if there had been any unusual stress in her life lately, to which she replied “I had kids too early, I wish I had done more with my life”. I could feel the courage-fuel she was burning while saying these words. I didn’t give her any speech. Just admiration, and a small part of me smirked at my childhood hoping my mother had realized that sooner. Well, she didn’t. I made my life’s mission to become exactly the opposite of her. As I typed in another ER report for the 27-year-old sitting next to me, I came to an uncomfortable realization: how not often patients wish us anything at all, like we’re not people, like we don’t have feelings. She had wished me as much as a great future - that’s a lot. I hope she knows that’s exactly what I wished her, too. Truth is, I felt like my emotional energy could

Malibu, 2025.

Malibu, 2025. Note to self. It had been already snowing. Awfully early to, but it was Moscow. Normally, after the first snow I’d meet Seda and she would complain about every single aspect of her life and connect it to the snow fall and the coming winter. Now, however, it was just me. I remember I had been looking for emotional sustainability. I, yet, couldn’t find the equivalent of “green, sustainable” for feelings. I was not sure either it was a color. Oh. Right. It was exac tly the things that happened after we graduated that defined us. I died my hair blond, took off to Vienna to meet old affairs and taste the Austrian cuisine (all of it, but I specialized on schnitzels and apfelstrudels). Martin moved with Masha and Domenico to the countryside, after which they became gypsies in the alps. Seda took off with Gennady to the United States in the pursuit of happiness according to the American constitution. I became a vegan after that, but remained blond. Seda ended up working tem