Pular para o conteúdo principal

Moscou nunca morre


[Verão passado em Moscou, em uma fonte que fica na Praça Vermelha, pryamo vot tak!]

Precisávamos no mínimo falar MUITO e ouvir QUALQUER COISA em português. A distância da definição e do reconhecimento de uma língua materna só aumentava e francamente, a neve consegue piorar qualquer coisa, não importa o que ela seja. Seria uma noite calma no hotel, deixar o booze de lado, então ficamos no quarto vendo Jean Charles, aquele filme do brasileiro que é morto no metrô de Londres porque fora confundido com um terrorista. Na manhã seguinte estávamos em Moscou, depois do atentado ao metrô, as palavras que se podia pegar no ar eram: bomba, metrô, Lubyanka (a estação). Entendi isso quando cheguei a estação, em outro trem, e ela estava cheia de flores. E se eu tivesse acordado mais cedo? Daqui a pouco o Jornal Nacional estaria lamentando a minha morte. Poupei o Brasil disso, gravamos um vídeo na frente da estação (preguiça de upá-lo, mas é uma chacota do tipo "Eu estou aqui na frente da estação e estou viva. Pronto? Viva. Oi mãe"), só para que o Brasil tivesse certeza de que estávamos vivas. Aliás, toda essa coisa de assistir Jean Charles, mortes no metrô...? Ficou na nossa cabeça. Moscou estava vulnerável, quanto a nós, pior ainda.


[Lugar onde ocorreu o atentado no Domodedovo e eu dormindo]

Domingo escrevi no twitter que ia viajar e aconteceu o maior mal-entendido, gente achando mesmo que eu estava do Domodedovo chegando em Moscou. Acontece que eu ainda nem saí do Brasil. E ainda por cima, a Globo faz o favor de relembrar todos os atentados que ocorreram na Rússia, isso quer dizer, recebi ligações de parentes esperando que eu desse um bom motivo para continuar morando lá. Eu não tenho um. O único que eu tenho consiste na hipótese de que a energia do lugar me apazigua muito e a Praça Vermelha é uma das melhores visões do mundo.


[Matt Damon sobrevivendo Moscou, e adiantando o próximo post, com o melhor sotaque de americano falando em russo que Hollywood conseguiu produzir até hoje]

É difícil ser um país com relevância geopolítica, as bombas vêm junto. Não se engane pelo concreto e pelas edificações, Moscou e qualquer cidade na mesma linha é uma selva e o resto é sobrevivência.

E enfim acabei de escrever a última palavra no "Pão-com-açúcar", vou manter o título, mas mudei a história um tanto, por isso deletei o que já estava publicado aqui, e não sei se quero publicar antes de Abril, gosto de deixá-lo assim de molho, até eu sentir que está mais que OK. Não gosto dos meses antes de Abril. Não sei explicar, não gosto das cores deles (sim, eles têm cores). E tampouco gosto de carnaval. Ano passado descobri que era Carnaval quando algum russo me perguntou no corredor se estava todo mundo pelado no Brasil e eu perguntei por que diabos estariam todos pelados.

Fiquem na espera, se ela existir.

Leituras interessantes: "Psicanálise dos contos de fadas", "Mulheres que correm com lobos" e uma edição de capa dura linda dos contos dos Irmãos Grimm. Me joguei nisso e amei. Agora estou relendo Senhor dos Anéis de novo, só para me reafirmar na frente de Harry Potter.


E francamente, Moscou vai sobreviver. Essa cidade já foi bombardeada pelo menos mil vezes antes, recontemos as guerras? Não. A gigante vermelha continua.

Pontuo.

Comentários

Maísa disse…
Acho que nesse post eu não encontrei nada exatamente novo mas eu precisava pontuar que a última foto é sensacional! E, cara, wtf, é o Damon mesmo?

Postagens mais visitadas deste blog

RIANNE (eu,ich, ja, I, yo), A COLONIZADORA.

Toda criança normal tem como lembrança normal algum parque ou algo extremamente colorido. A primeira lembrança que eu tenho é de um corredor de hotel, uma janela no fim. Depois... Perguntaram-me em New Jersey se o que eu falava era brasileiro ou espanhol, peguei a bicicleta, achei graça e ralei o joelho - não exatamente nessa ordem, mas nada que me impedisse de ir comprar comida chinesa em caixinha do outro lado da rua, eu sempre kept the creeps quanto à vendedora, ela era alta demais pra uma chinesa. Foi nessa época que criei um certo trauma em relação a indianos, o acento indiano é um negócio a se discutir - parei de comer dunkin donuts. Era uma máfia, em todo Dunkin Donut e posto de gasolina só se trabalhava indiano. Admito que só fazia ESL pra perder aula, mas o mundo inteiro precisava sentar em um teatro e ver a cara da Miss Rudek, quando eu, o Hupert (chinês), e a Katrina (mexicana) passamos a ser crianças sem línguas maternas: Havíamos aprendido duas ao mesmo tempo, com um empur

Purple crutches

“I wish you a great future”, then she gave me her hand - similar to a peace offering. She had a simple case of a stomach ulcer, I had patched her up around 3am in our ER, I had simply asked her if there had been any unusual stress in her life lately, to which she replied “I had kids too early, I wish I had done more with my life”. I could feel the courage-fuel she was burning while saying these words. I didn’t give her any speech. Just admiration, and a small part of me smirked at my childhood hoping my mother had realized that sooner. Well, she didn’t. I made my life’s mission to become exactly the opposite of her. As I typed in another ER report for the 27-year-old sitting next to me, I came to an uncomfortable realization: how not often patients wish us anything at all, like we’re not people, like we don’t have feelings. She had wished me as much as a great future - that’s a lot. I hope she knows that’s exactly what I wished her, too. Truth is, I felt like my emotional energy could

Malibu, 2025.

Malibu, 2025. Note to self. It had been already snowing. Awfully early to, but it was Moscow. Normally, after the first snow I’d meet Seda and she would complain about every single aspect of her life and connect it to the snow fall and the coming winter. Now, however, it was just me. I remember I had been looking for emotional sustainability. I, yet, couldn’t find the equivalent of “green, sustainable” for feelings. I was not sure either it was a color. Oh. Right. It was exac tly the things that happened after we graduated that defined us. I died my hair blond, took off to Vienna to meet old affairs and taste the Austrian cuisine (all of it, but I specialized on schnitzels and apfelstrudels). Martin moved with Masha and Domenico to the countryside, after which they became gypsies in the alps. Seda took off with Gennady to the United States in the pursuit of happiness according to the American constitution. I became a vegan after that, but remained blond. Seda ended up working tem