Três horas, sempre cedo ou tarde demais para começar a fazer alguma coisa, disse Sartre, de algum modo melhor do que eu parafraseei. Ao que eu vejo que por três horas ele quis dizer só não três horas da tarde, mas da madrugada, essa parte do dia onde há silêncio nas maiores das metrópoles. È verdade que eu poderia começar a falar de estrelas e ser piegas sobre a tranquilidade que elas passam às três da manhã, mas serei piegas de outra forma. Recentemente fui à locadora, porque eles vendem esse iogurte lá agora e não porque eu queria alugar algum filme, creio que assim como as lojas de CDs, as locadoras estão com os seus dias contados, e o ato de alugar um filme ou comprar um CD é hoje em dia meramente simbólico - com uma incrível fonte de ilimitação que é a internet, se faz isso tudo de quatro paredes. Pois bem, vi Julia Roberts, logo quem não atuava há tanto tempo, eu não esperava que ela voltasse, na verdade até esperava, mas queria ter sido avisada. "Comer, rezar e amar", lembrei de ter visto esse livro na livraria centenas de vezes e ter achado que era um desses livros com uma dieta parecida com a de South Beach e ter ignorado totalmente. Por Julia Roberts, fui atrás do livro e comecei a lê-lo. É lógico que li na defensiva e é verdade que a narração me parece simples demais, mas na dose suficiente para ter feito o sucesso que me parece ter feito. Acabei que resolvi ver o filme antes de acabar o livro, e tirando o sotaque bizarro do brasileiro, é até notável. Na verdade, é a história de todas as mulheres na Terra. A busca por algo maior, melhor. Para algumas vem em forma de filhos, trabalho, viagens, amor. Mas para as que se identificam com a personagem da Roberts, a busca por algo maior que esteja lá fora pelo caminho mais simbólico possível, uma estrada, uma viagem, é a mais certa. Não deixem de ver o filme ou ler o livro, é uma experiência por associação, e esse tipo de experiência é muito rara, muitas vezes alguém nos conta uma história e pára por aí mesmo, mas raramente alguém nos conta outra história e nós tomamos a experiência para si. O simples vem sempre com essa dose de complicação, mas sempre vale a pena subir exaustivamente uma montanha estúpida pela paisagem. Mais do que nunca preciso ir a Gales, a vontade que não ficou menor depois que vi fotos na Lonely Planet. Não precisa fazer sentido essa vontade minha de ir lá, contanto que ela simplesmente exista, contanto que eu possa simplesmente contar com ela quando eu precisar dessa dose de querer-algo-melhor. Porque se não fosse assim, eu teria que provar da angústia que provou Madame Bovary, sempre tão presa dentro de si e querendo buscar algo onde não sabia exatamente onde achar. O importante é poder contar com a vontade, o importante é saber que não importa se não achamos ainda esse algo-melhor, o importante é saber que ainda estamos na corrida aqui, ainda estamos no meio do movimento, no meio da estrada, e não estagnamos. É importante demais que queiramos ser mais do que somos agora, eu costumo pensar que tudo que eu preciso já tenho, afinal, essa pessoa está em algum lugar já agora dentro de mim, basta eu saber esculpir devidamente. Tenho certeza que Gales me guarda algo incrível, que, orgulhosamente, não sei dizer bem o que é, mas sei que estou no meio do caminho, e adoro caminhar até lá... Não encaro nada disso como se estivesse vivendo em uma sala de espera, encaro tudo isso como se estivesse no meio da estrada. Há várias interpretações para a mesma situação, e com certeza a muitos falta o olhar, a sede, o otimismo de ver além. E aviso logo, seja lá para onde eu estiver onde, seja lá onde esteja o meu algo-melhor, sob qualquer circunstâncias continuarei ignorando pessoas pessimistas e que oferecem nada senão uma nuvem em cima de suas cabeças. Não gosto quando me bloqueiam o Sol e a felicidade, as possibilidades, e muito menos quando chovem perto de mim. Odeio ainda mais quando sei que vai chover, gosto quando a chuva vem desavisada e vira uma aventura, não quando ela é avisada e todos querem ser delicados com seus guarda-chuvas, e quando eu vejo alguém com uma nuvem em cima da cabeça, sei que vou ter que ter um guarda-chuva por perto. Seja lá o que for, e onde for, quero um dia ensolarado ou uma chuva de verão, mas não quero avisos, quero o imprevisível. Esse é o meu algo-melhor. E tenho essa impressão que quando achá-lo, ainda não estarei satisfeita, e nesse caso, insatisfação é o melhor caminho para viver uma vida com algum objetivo. E essa é a minha experiência do livro piegas de mulherzinha que eu não obstante recomendo. Agora preciso dormir, amanhã preciso ir pintar o cabelo em algum horário em que os cabeleireiros ainda funcionem. Pontuo.
PS: A próxima publicação de "Pão-com-açúcar" será a última, e será um tanto longa, simplesmente quero acabar com os periódicos, e ela vem até o final do ano, agora que fui presenteada com dois quilos e meio de tempo livre. Sit tight :).
Primeira publicação
Segunda publicação
Terceira publicação
Quarta publicação
Primeira publicação
Segunda publicação
Terceira publicação
Quarta publicação
Comentários