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A hora

É muito difícil se empacotar e se mandar assim, no ritmo da maré que a chuva formou. Mas a minha crescente antipatia e falta de movimento me certificava o tempo inteiro, enquanto eu fechava as caixas, que a hora já tinha chegado e só estava me esperando. Eu estava sentada no chão, cercada por sete caixas cheias de livros, perdida em pensamentos, fazendo uma piada repetida de como aquilo era uma imagem para o tumblr. Tenho repetido muito essa piada. E o que realmente tinha me levado até aqui... As pessoas me perguntam o tempo inteiro e eu, quando sem vontade, digo que quis. A verdade é que primeiro de tudo, quis, sim. Mas antes do querer eu queria também outras coisas. Porque eu iria fazer jornalismo e me decepcionei antes de começar. E todos aqueles livros me lembravam que, para escrever, para ler, eu não precisava ser uma jornalista. Eu precisava simplesmente lembrar quem eu era, e tentar tirar uma foto parada disso no meio da inconstância. Aos quatorze anos, indo para os quinze, eu estava cozinhando essa carne e percebi que gostava daquilo, de ficar mexendo na carne. Daquela situação eu poderia ter tirado várias conclusões: 1) O fato de que eu realmente gostava de cortar e ver o sangue sair me iniciava como serial killer; 2) Eu tinha um dom para culinária; 3)Eu poderia ser médica e além de ver a carne, a carne se mexeria. E what the hell, quais eram as chances. A decisão de quatro anos atrás já tem forma e eu gosto do que vejo. As caixas se empilharam, eu me compactei para caber nos limites da tarifa do vôo.

Terça-feira vou visitar meus avós e chego sexta-feira em São Paulo. Dia oito de Abril, a sexta-feira depois daquela, dezoito horas depois, no dia nove, estou em Moscou. Durante e enquanto isso, vou escrevendo sobre esses dias e o que mais vier a minha cabeça.

É hora de ir, a hora já me chamou.

Pontuo.

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