Às cinco da manhã, o estranho sono que me acometera às oito da noite, já alimentado, satisfeito consigo e arrotando, me acordou num horário que as pessoas só acordam para tirar leite de vaca, e os gritos bêbados da juventude numa rua vazia, na alvorada do dia, foi o suficiente para me acordar, perfeitamente audível do décimo segundo andar graças a qualquer desgraça que exista nas leis da acústica. Não esculpo só perfeições, e diferente dos gregos antes de Lísipo, acredito demais nas imperfeições e gosto dos seus retratos, e os gritos bêbados conectavam-se devidamente às imperfeições e à realidade, que é minha e não tem planos nem uma via expressa para a perfeição. Somente a poesia inteira que a palavra "alvorada" carregava sozinha parecia perfeita, à frente do Sol, atrás dos prédios, um breve momento de paz antes do dia se iniciar, o Homus urbanus não planeja, não se preocupa, não conta, não dirige, só dorme e perde a alvorada, pois o restante do dia tem todo o potencial para ser somente imperfeito, e a todos que não acordam às cinco da manhã fica difícil de dizer se existe algo mais além daquilo, a alvorada é tão curta e só por isso é perfeita. Café. Música. Som da respiração, da maquinaria interna. Entre gestos mecânicos, me remeto de volta a cena do dia anterior que eu brigava com um palhaço na rua, totalmente fora do humor para coisas circenses, ele tentava ser engraçado, e eu não ria, então ele tentava mais ainda e ainda e ainda, até que eu disse que ele não era engraçado, e pare, por favor. Acidez. E lá é minha culpa se os palhaços não são engraçados? Toda a montagem, a maquiagem, o nariz, a roupa, feitos para ser engraçados, não são. Previsível demais, e poucos são os que sentam ali e pensam "agora isso vai ser engraçada", não sou um deles. Pare, palhaço. O único palhaço de fato engraçado é o Ronald Mcdonald, pois ele ri e te faz graça enquanto entope suas veias. E somente agora, olhar essa cena de fora, como memória, fazia aquilo engraçado, brigar com um palhaço talvez seja um dos atos de violência gratuita mais extremos. E eu penso que esse café está bom, e que talvez o sono passe a vir cedo, e pelo menos rezo por isso, pois não gosto de pensar que dormi às oito da noite só porque ficara acordada vinte quatro horas seguidas, entre praias e uma festa que não teve previsão para acabar. Às seis da manhã, a alvorada já dá lugar à imperfeição, o café acaba, sento e vou ler Saramago, que sem cerimônia nenhuma, me ensina sobre a natureza humana, como se todo aquele conhecimento viesse de graça (com pagamento tardio, pois ser humano depois de Saramago é tarefa de Hércules). (esse é o meu jeito de dizer) Bom dia (mas ainda gosto mais da noite).
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[escrito no avião]
Semana passada recebi um e-mail, que entre má pontuação, falta de vocabulário e maturidade, entre outras coisas, dizia que eu escrevia mal. Li uma vez, passei para o próximo na minha caixa de entrada. Foi a primeira vez que alguém dissera que eu escrevia mal. Lembro quando eu tinha nove anos e comecei a escrever, no notebook da minha mãe, notebooks eram coisas exóticas naquela época, e eu tinha um mundo inteiro para descrever. Nada do que escrevi naquela época está salvo, mas achei uma cópia impressa de tudo numa pasta dentro de caixas de mudança (ah, as caixas) há algum tempo. Ri de mim, mas vi que comecei a crescer no meu útero, do meu jeito, ali. Lembro, ainda, da primeira vez que senti vontade, ainda aos nove anos, de pegar um papel e simplesmente escrever, era algo sobre melancias e ainda lembro da caneta que usava, do jeito como a janela reproduzia a paisagem naquele dia, era New Jersey, era primavera, eu amava aquele lugar, a caneta era vermelha, as folhas de fichário deveriam já conter um trabalho sobre Rosa Parks, o qual eu não começara fazer, e deus, ainda tinha uma prova de história vindo, quando História e Geografia ainda eram Social Studies. Lembro da forma das coisas, e lembro que só a partir desse dia, dessa época, passei a tratar as coisas não só como coisas, mas como pedaços potenciais de um poema, de uma crônica, de uma prosa, sob o humor negro (que ainda tenho) e o olhar crítico, que impregnou em mim, hoje ambos em estado crônico, sem cura. Lembro que só aquela época batizei o português como algo mais que o inglês, batizei-o de algo, que hoje entendo que dei-lhe o título de língua materna, aos nove anos, como se finalmente eu tivesse que escolher entre o inglês e português. Me pego muito mais que frequentemente pensando mais em inglês o tempo inteiro, que em português, mas quando o papel está em branco, e eu sinto a vontade dos nove anos, então tudo o que eu quero dizer é em português, a língua do meu berço, que viajou o mundo comigo, foi nômade comigo. Experiências a parte, chegando ao Brasil, tive que convencer uma professora de redação na quarta série que eu tinha escrito um artigo sobre como a água iria acabar, já que a Sra Dona havia me dado um sete, corrigindo-o para dez, quando percebeu minha irritação sob a acusação dela, de que eu havia copiado da internet, e eu era só uma criança da minha época, de dez anos, que não mexia em computador ainda, não como as crianças de hoje. Tive professores incríveis, que me incentivaram, viram que eu via mais que apenas um dinossauro (piada interna, devidamente explicada no Pão-com-açúcar, para os que se interessarem assim tão profundamente). Percebi que eu realmente gostava da coisa quando uma professora me escolheu na classe para participar de um concurso que tinha final na Suiça, dava importância à coisa. Na época, eu iria fazer jornalismo, eu sabia disso – aquela época que nós sabemos com tanta certeza coisas demais. Comecei a rondar pelo mundo dos blogs aos onze anos, por essa época, conheci a Maísa, que acreditou em mim, além de segurar minha mão e não ver apenas dinossauros, também. Gosto muito das madrugadas para escrever, é tudo tão quieto, às três da manhã tenho surtos de necessidade de escrever, é uma força que me levanta da cama e me põe de castigo de frente ao computador. Não reclamo, gosto disso demais. Em andamento, nesse momento, o “Pão-com-açucar”, que é do acaso; abandonei a coitada da Erin no “Tresloucada”, mas ela ainda vive dentro de mim e ainda resolveremos os espaços em branco do livro; tenho o “Guarda-roupa anatômico”, que são algumas poesias, que eu estou editando com carinho agora; tenho a Vreni, sem título, de tão esboçada ainda que é, que me desperta de vez em quando de noite para me escravizar; tenho uma coleção de crônicas sobre a Rússia, a coletânea a qual eu chamo carinhosamente de “República do Chá”, e é mais um relato de sobrevivência e how-to que qualquer outra coisa. Tenho mais mil coisas acontecendo na minha cabeça, personagens nascendo, outros eu querendo matar, outros, em sua maioria, com vontade própria... E sei que tenho coerência e um eu-lírico suficientemente bem alimentado e bem-lido para publicar aqui uma coisa ou outra, que não é 2% de todo esse mundo da minha cabeça, que é esse salão oval em mármore branco, com uma cadeira no centro. Pois bem. Se me perguntarem, não quero mais ser jornalista. Não preciso que alguém me publique para eu ser escritora, o que eu preciso é escrever para mim, para evitar úlceras, para quem interessa. Por isso quando li aquele e-mail pensei que era a primeira vez que alguém dizia na minha vida inteira que eu escrevia mal (sendo que o próprio Sr não entendia muito de pontuação ou acentos...), e é nessas horas, minha gente, que o riso é a única reação disponível, e além do mais, gosto do que escrevo maioria das vezes, e isso é muito mais importante para mim. Sou egoísta, egocêntrica, nunca escondi isso. Gosto muito mais ainda de críticas, das construtivas, então, pedido, da próxima vez que me escreverem mensagens odiosas, além de checar a ortografia, cheque o sentido da crítica, que não tinha argumentos, e eu trabalho com argumentos mais que com verdades absolutas e opiniões sem chão, vindo de um estranho totalmente burro. E a crítica que posso vir a aceitar terá de ser vinda de alguém que escreva, que leia,¸que viva esse mundo, que tenho um mundo-eu disponível, nessa úlcera, nesse descontrole de palavras. Campanha: CRÍTICAS – saiba fazê-las ou fique parecendo um completo imbecil na minha caixa de entrada. Não mendigo amor, agarro-o quando ele está disponível, e acima de tudo, não mendigo admiração. O salão oval da minha mente, da onde sái tudo que escrevo, é meu, fica quem gosta, quem não gosta, ou argumenta comigo os porquês e os quês, ou se retira sem fazer barulho, pois isto aqui é um ambiente oval, e faz um eco danado. E se para alguém que escreve coisa tão inútil e se dá o trabalho de me mandar, fico pensando que se lhe sobra tempo para não gostar de mim, vá dar palestras sobre gestão do tempo e fique rico, porque tem gente querendo saber como conseguir ter tanto tempo de sobra a ser desocupado assim (contanto que o resultado das palestras nos ouvintes não seja se tornar um ser patético como o Sr Coitado me pareceu). As pessoas que admiro em sua maioria são escritores, gente que sabe argumentar e montar frases direitinho, e deles (ah, deles) eu receberia todas as críticas do mundo, as piores me pareceriam sonetos. Agora vou fechar o computador, que a bateria quer morrer, e eu estou prestes a pousar em solo cearense, a madrugada vai vstupando [do russo, entrando], e eu corro louca no salão oval da minha mente, borbulhando idéias, formando frases melhores, acabando, finalmente, sem pressa, sem prazos, sem dever a ninguém, o meu primeiro livro publicado a quem interessa. Não adianta, sou assim: pego as opiniões boas para mim, vivo com as minhas certezas argumentadas, e ignoro gente mentalmente inferior sem qualquer cacife para me criticar. Só argumento com gente no mesmo nível que eu, por isso, se se perguntam, não respondi, já falei que a única reação disponível era o riso? Ceará, tou chegando. Me espera, Iracema.
[escrito no avião]
Semana passada recebi um e-mail, que entre má pontuação, falta de vocabulário e maturidade, entre outras coisas, dizia que eu escrevia mal. Li uma vez, passei para o próximo na minha caixa de entrada. Foi a primeira vez que alguém dissera que eu escrevia mal. Lembro quando eu tinha nove anos e comecei a escrever, no notebook da minha mãe, notebooks eram coisas exóticas naquela época, e eu tinha um mundo inteiro para descrever. Nada do que escrevi naquela época está salvo, mas achei uma cópia impressa de tudo numa pasta dentro de caixas de mudança (ah, as caixas) há algum tempo. Ri de mim, mas vi que comecei a crescer no meu útero, do meu jeito, ali. Lembro, ainda, da primeira vez que senti vontade, ainda aos nove anos, de pegar um papel e simplesmente escrever, era algo sobre melancias e ainda lembro da caneta que usava, do jeito como a janela reproduzia a paisagem naquele dia, era New Jersey, era primavera, eu amava aquele lugar, a caneta era vermelha, as folhas de fichário deveriam já conter um trabalho sobre Rosa Parks, o qual eu não começara fazer, e deus, ainda tinha uma prova de história vindo, quando História e Geografia ainda eram Social Studies. Lembro da forma das coisas, e lembro que só a partir desse dia, dessa época, passei a tratar as coisas não só como coisas, mas como pedaços potenciais de um poema, de uma crônica, de uma prosa, sob o humor negro (que ainda tenho) e o olhar crítico, que impregnou em mim, hoje ambos em estado crônico, sem cura. Lembro que só aquela época batizei o português como algo mais que o inglês, batizei-o de algo, que hoje entendo que dei-lhe o título de língua materna, aos nove anos, como se finalmente eu tivesse que escolher entre o inglês e português. Me pego muito mais que frequentemente pensando mais em inglês o tempo inteiro, que em português, mas quando o papel está em branco, e eu sinto a vontade dos nove anos, então tudo o que eu quero dizer é em português, a língua do meu berço, que viajou o mundo comigo, foi nômade comigo. Experiências a parte, chegando ao Brasil, tive que convencer uma professora de redação na quarta série que eu tinha escrito um artigo sobre como a água iria acabar, já que a Sra Dona havia me dado um sete, corrigindo-o para dez, quando percebeu minha irritação sob a acusação dela, de que eu havia copiado da internet, e eu era só uma criança da minha época, de dez anos, que não mexia em computador ainda, não como as crianças de hoje. Tive professores incríveis, que me incentivaram, viram que eu via mais que apenas um dinossauro (piada interna, devidamente explicada no Pão-com-açúcar, para os que se interessarem assim tão profundamente). Percebi que eu realmente gostava da coisa quando uma professora me escolheu na classe para participar de um concurso que tinha final na Suiça, dava importância à coisa. Na época, eu iria fazer jornalismo, eu sabia disso – aquela época que nós sabemos com tanta certeza coisas demais. Comecei a rondar pelo mundo dos blogs aos onze anos, por essa época, conheci a Maísa, que acreditou em mim, além de segurar minha mão e não ver apenas dinossauros, também. Gosto muito das madrugadas para escrever, é tudo tão quieto, às três da manhã tenho surtos de necessidade de escrever, é uma força que me levanta da cama e me põe de castigo de frente ao computador. Não reclamo, gosto disso demais. Em andamento, nesse momento, o “Pão-com-açucar”, que é do acaso; abandonei a coitada da Erin no “Tresloucada”, mas ela ainda vive dentro de mim e ainda resolveremos os espaços em branco do livro; tenho o “Guarda-roupa anatômico”, que são algumas poesias, que eu estou editando com carinho agora; tenho a Vreni, sem título, de tão esboçada ainda que é, que me desperta de vez em quando de noite para me escravizar; tenho uma coleção de crônicas sobre a Rússia, a coletânea a qual eu chamo carinhosamente de “República do Chá”, e é mais um relato de sobrevivência e how-to que qualquer outra coisa. Tenho mais mil coisas acontecendo na minha cabeça, personagens nascendo, outros eu querendo matar, outros, em sua maioria, com vontade própria... E sei que tenho coerência e um eu-lírico suficientemente bem alimentado e bem-lido para publicar aqui uma coisa ou outra, que não é 2% de todo esse mundo da minha cabeça, que é esse salão oval em mármore branco, com uma cadeira no centro. Pois bem. Se me perguntarem, não quero mais ser jornalista. Não preciso que alguém me publique para eu ser escritora, o que eu preciso é escrever para mim, para evitar úlceras, para quem interessa. Por isso quando li aquele e-mail pensei que era a primeira vez que alguém dizia na minha vida inteira que eu escrevia mal (sendo que o próprio Sr não entendia muito de pontuação ou acentos...), e é nessas horas, minha gente, que o riso é a única reação disponível, e além do mais, gosto do que escrevo maioria das vezes, e isso é muito mais importante para mim. Sou egoísta, egocêntrica, nunca escondi isso. Gosto muito mais ainda de críticas, das construtivas, então, pedido, da próxima vez que me escreverem mensagens odiosas, além de checar a ortografia, cheque o sentido da crítica, que não tinha argumentos, e eu trabalho com argumentos mais que com verdades absolutas e opiniões sem chão, vindo de um estranho totalmente burro. E a crítica que posso vir a aceitar terá de ser vinda de alguém que escreva, que leia,¸que viva esse mundo, que tenho um mundo-eu disponível, nessa úlcera, nesse descontrole de palavras. Campanha: CRÍTICAS – saiba fazê-las ou fique parecendo um completo imbecil na minha caixa de entrada. Não mendigo amor, agarro-o quando ele está disponível, e acima de tudo, não mendigo admiração. O salão oval da minha mente, da onde sái tudo que escrevo, é meu, fica quem gosta, quem não gosta, ou argumenta comigo os porquês e os quês, ou se retira sem fazer barulho, pois isto aqui é um ambiente oval, e faz um eco danado. E se para alguém que escreve coisa tão inútil e se dá o trabalho de me mandar, fico pensando que se lhe sobra tempo para não gostar de mim, vá dar palestras sobre gestão do tempo e fique rico, porque tem gente querendo saber como conseguir ter tanto tempo de sobra a ser desocupado assim (contanto que o resultado das palestras nos ouvintes não seja se tornar um ser patético como o Sr Coitado me pareceu). As pessoas que admiro em sua maioria são escritores, gente que sabe argumentar e montar frases direitinho, e deles (ah, deles) eu receberia todas as críticas do mundo, as piores me pareceriam sonetos. Agora vou fechar o computador, que a bateria quer morrer, e eu estou prestes a pousar em solo cearense, a madrugada vai vstupando [do russo, entrando], e eu corro louca no salão oval da minha mente, borbulhando idéias, formando frases melhores, acabando, finalmente, sem pressa, sem prazos, sem dever a ninguém, o meu primeiro livro publicado a quem interessa. Não adianta, sou assim: pego as opiniões boas para mim, vivo com as minhas certezas argumentadas, e ignoro gente mentalmente inferior sem qualquer cacife para me criticar. Só argumento com gente no mesmo nível que eu, por isso, se se perguntam, não respondi, já falei que a única reação disponível era o riso? Ceará, tou chegando. Me espera, Iracema.
Comentários
Agora tens uma crítica...Não é construtiva, porém sincera. Continue, você é muito boa no que faz.