Querendo embarcar logo. Eu falo do "logo" de quem tem sede. Faltam quatro dias, não sei exatamente se eu deveria estar ansiosa, acho que não mais, agora eu só tenho pressa por alguma coisa que eu só descubro quando a pressa acabar. Viver nos próprios sapatos é mais complicado que se pode imaginar, ter uma vida regulada e aparada pelos pais é muito conveniente, acontece que temos pés, que são dois, e a independência é uma conseqüência de se estar vivo. Tenho conhecida gente realmente notável por aqui... Italianos, espanhóis, lituanos, canadenses, chilenos, americanos e tenho experimentado esse sentimeneto de satisfação e plenitude que eu não tenho tido desde Burlington, não sei se me culpo por não ter tido isso em Fortaleza ou se me glorifico por ter voltado à linha do trem que me leva aonde eu quero. Tenho tido alguns perrengues, e que não seja surpresa, eles existem em qualquer lugar do mundo, mas mais alegrias, em todas as línguas que se pode imaginar. Eu criei essa rotina e essa necessidade de organização que se cria quando se vive dos próprios sapatos, pode até parecer pouco tempo que eu estou vivendo essa vida que eu escolhi, mas eu não falo de números ou espaço de tempo, eu falo de intensidade. Vi Benjamin Button hoje, finalmente... E Vicky Cristina Barcelona também, ambos os filmes com mensagens importantíssimas, ouso dizer essenciais. Pensamento aleotório: achar-se pleno em estado de espírito é só uma questão de ponto de vista, e no meu caso o que é de muita importância é de onde eu tenho esse ponto de vista, e os lugares que eu tenho visto, vido, vivido e morado ainda não foram suficientes em todos os pontos, talvez eu nunca ache isso, talvez eu tenha que juntar partes de todos, mas de qualquer forma eu tenho a impressão que se viver é uma questão de ponto de vista, eu estou indo pra um lugar sem pontos cegos logo e só essa idéia me mata um pouco da sede.
Toda criança normal tem como lembrança normal algum parque ou algo extremamente colorido. A primeira lembrança que eu tenho é de um corredor de hotel, uma janela no fim. Depois... Perguntaram-me em New Jersey se o que eu falava era brasileiro ou espanhol, peguei a bicicleta, achei graça e ralei o joelho - não exatamente nessa ordem, mas nada que me impedisse de ir comprar comida chinesa em caixinha do outro lado da rua, eu sempre kept the creeps quanto à vendedora, ela era alta demais pra uma chinesa. Foi nessa época que criei um certo trauma em relação a indianos, o acento indiano é um negócio a se discutir - parei de comer dunkin donuts. Era uma máfia, em todo Dunkin Donut e posto de gasolina só se trabalhava indiano. Admito que só fazia ESL pra perder aula, mas o mundo inteiro precisava sentar em um teatro e ver a cara da Miss Rudek, quando eu, o Hupert (chinês), e a Katrina (mexicana) passamos a ser crianças sem línguas maternas: Havíamos aprendido duas ao mesmo tempo, com um empur...
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