Toda criança normal tem como lembrança normal algum parque ou algo extremamente colorido. A primeira lembrança que eu tenho é de um corredor de hotel, uma janela no fim. Depois... Perguntaram-me em New Jersey se o que eu falava era brasileiro ou espanhol, peguei a bicicleta, achei graça e ralei o joelho - não exatamente nessa ordem, mas nada que me impedisse de ir comprar comida chinesa em caixinha do outro lado da rua, eu sempre kept the creeps quanto à vendedora, ela era alta demais pra uma chinesa.
Foi nessa época que criei um certo trauma em relação a indianos, o acento indiano é um negócio a se discutir - parei de comer dunkin donuts. Era uma máfia, em todo Dunkin Donut e posto de gasolina só se trabalhava indiano.
Admito que só fazia ESL pra perder aula, mas o mundo inteiro precisava sentar em um teatro e ver a cara da Miss Rudek, quando eu, o Hupert (chinês), e a Katrina (mexicana) passamos a ser crianças sem línguas maternas: Havíamos aprendido duas ao mesmo tempo, com um empurrãozinho da Miss Rudek por não nos permitir fazer prova já que seria exigir demais. Nunca discordei.
Na Florida eu comia ovo cozido todo dia, santo metabolismo o meu que segurou o colesterol. Quando eu voltava a terra da aquarela, no avião uma mulher elogiou meu acento, depois a expliquei sobre New Jersey, ela disse que gostava do meu cabelo e ficou por isso mesmo em um vôo de 13 horas - eu falava norte-americano. A aeromoça era tão neutra quanto a Suiça e só falava inglês, just a water,yes?...
Na conexão com a equipe de bordo mais neutra com aquele sotaque eternamente gripado de São Paulo. Foi quando eu já pegara a outra conexão e agora o ar falava em 31oC, do outro lado do continente meu nome médio era Perigloso.
Agora eu ja era trilingüe... Foi quando eu voltei a Florida-40oC e comprei um cd dos Sex Pistols. Um cara perguntou as horas e eu respondi e ele perguntou se eu era brasileira, e se sim, porque eu gostava de Sex Pistols, só respondi que eram 8 o'clock. Entendi o episódio demais, já que eu andava com uma blusa evidenciando a minha brasileirice.
Me perdi no Picadilli Circus, em Venezia, Madrid, e Windsor (onde eu corri feito um jumento procurando a entrada do castelo) e outros buracos europeus - é assim que se descobre que a Torre Eiffel só é para bobos. Peguei como ponto de referência em Luzern o lago (o lago fica no meio da cidade) - me perdi lá também, e no fim do dia, eu havia ganhado uma experiência estúpida e comprado um moleskine. Mas não se pense que se cansa da Suiça assim. Você nunca consegue ter demais da Suiça. Principalmente quando os primeiros suiços que você conhece estavam na porta do seu hotel com uns drinks simpáticos e você arranhava o alemão ainda, e foi nesse dia que eu descobri que se o brasileiro já achava que alemão era agressivo, precisavam ouvir o acento suiço. Pessoas realmente simpáticas que fazem valer a viagem.
Pararam o trânsito de Monaco só pra eu atravessar. Simpático, pensei. Atravessei com o bowl do guarda e fui tirar foto de "girassóis de Van Gogh" do outro lado da rua.
Outro dia um italiano pediu barra de cereal de chocolate no avião só pra me dar, achei simpático e disse 'prego' (meus conhecimentosem italiano se resumem em 'prego' 'excusa' e 'senza champingnon').
Quando eu tinha 11 anos minha professora de Geografia me disse pra aprender mandarim e acumular uma fortuna. Cara professora, ofereça um daqueles produtos de plástico que vende no centro escrito Made in China a uma ocidental, mas não ofereça a China a uma ocidental, porque no máximo, eu só vou relacionar a sushi, mesmo sabendo que isso é no Japão - o que eu aprendi é que a ignorância as vezes evita situações chatas. Eu ainda sou só a ocidental que come sushi sem nenhum interesse por mandarim.
A primeira vez que eu falei alemão com um austríaco ele não me entendeu - ele falava ratonês.
Com um pé aqui, outro em New Jersey, parentes da Europa, nacionalidade é um conceito relativo hoje em dia, por isso normalmente passo minhas férias no Piauí.
Uma biografia um tanto quanto fragmentada aí pelo mundo, but it's just a way to stay alive, boy.
Foi nessa época que criei um certo trauma em relação a indianos, o acento indiano é um negócio a se discutir - parei de comer dunkin donuts. Era uma máfia, em todo Dunkin Donut e posto de gasolina só se trabalhava indiano.
Admito que só fazia ESL pra perder aula, mas o mundo inteiro precisava sentar em um teatro e ver a cara da Miss Rudek, quando eu, o Hupert (chinês), e a Katrina (mexicana) passamos a ser crianças sem línguas maternas: Havíamos aprendido duas ao mesmo tempo, com um empurrãozinho da Miss Rudek por não nos permitir fazer prova já que seria exigir demais. Nunca discordei.
Na Florida eu comia ovo cozido todo dia, santo metabolismo o meu que segurou o colesterol. Quando eu voltava a terra da aquarela, no avião uma mulher elogiou meu acento, depois a expliquei sobre New Jersey, ela disse que gostava do meu cabelo e ficou por isso mesmo em um vôo de 13 horas - eu falava norte-americano. A aeromoça era tão neutra quanto a Suiça e só falava inglês, just a water,yes?...
Na conexão com a equipe de bordo mais neutra com aquele sotaque eternamente gripado de São Paulo. Foi quando eu já pegara a outra conexão e agora o ar falava em 31oC, do outro lado do continente meu nome médio era Perigloso.
Agora eu ja era trilingüe... Foi quando eu voltei a Florida-40oC e comprei um cd dos Sex Pistols. Um cara perguntou as horas e eu respondi e ele perguntou se eu era brasileira, e se sim, porque eu gostava de Sex Pistols, só respondi que eram 8 o'clock. Entendi o episódio demais, já que eu andava com uma blusa evidenciando a minha brasileirice.
Me perdi no Picadilli Circus, em Venezia, Madrid, e Windsor (onde eu corri feito um jumento procurando a entrada do castelo) e outros buracos europeus - é assim que se descobre que a Torre Eiffel só é para bobos. Peguei como ponto de referência em Luzern o lago (o lago fica no meio da cidade) - me perdi lá também, e no fim do dia, eu havia ganhado uma experiência estúpida e comprado um moleskine. Mas não se pense que se cansa da Suiça assim. Você nunca consegue ter demais da Suiça. Principalmente quando os primeiros suiços que você conhece estavam na porta do seu hotel com uns drinks simpáticos e você arranhava o alemão ainda, e foi nesse dia que eu descobri que se o brasileiro já achava que alemão era agressivo, precisavam ouvir o acento suiço. Pessoas realmente simpáticas que fazem valer a viagem.
Pararam o trânsito de Monaco só pra eu atravessar. Simpático, pensei. Atravessei com o bowl do guarda e fui tirar foto de "girassóis de Van Gogh" do outro lado da rua.
Outro dia um italiano pediu barra de cereal de chocolate no avião só pra me dar, achei simpático e disse 'prego' (meus conhecimentosem italiano se resumem em 'prego' 'excusa' e 'senza champingnon').
Quando eu tinha 11 anos minha professora de Geografia me disse pra aprender mandarim e acumular uma fortuna. Cara professora, ofereça um daqueles produtos de plástico que vende no centro escrito Made in China a uma ocidental, mas não ofereça a China a uma ocidental, porque no máximo, eu só vou relacionar a sushi, mesmo sabendo que isso é no Japão - o que eu aprendi é que a ignorância as vezes evita situações chatas. Eu ainda sou só a ocidental que come sushi sem nenhum interesse por mandarim.
A primeira vez que eu falei alemão com um austríaco ele não me entendeu - ele falava ratonês.
Com um pé aqui, outro em New Jersey, parentes da Europa, nacionalidade é um conceito relativo hoje em dia, por isso normalmente passo minhas férias no Piauí.
Uma biografia um tanto quanto fragmentada aí pelo mundo, but it's just a way to stay alive, boy.
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