"[...]
Foram duas aulas seguidas do Nonato, ele falou sobre a crise, o inédito déficit econômico do Brasil em sete anos ou mais, e eu fiquei pensando em como todo mundo pôs a corda no pescoço, nós, sendo engolidos pelo próprio sistema capitalista neoliberal. Em pensar que foram relativos trinta anos mundiais de prosperidade, oh, chegamos a um fim. O que me faz achar esse tipo de poder muito patético e me faz pensar sobre as épocas em que o poder obedecia a outras variáveis, a nobreza do sangue, ao tamanho de um exército, à quantidade de terras... Devia ser mais fácil sobreviver, devia ser fácil controlar, tudo o que nós temos agora é o Barak Obama tentando salvar o mundo. Você está pensando o que eu estou pensando, Pinky? Sim, Obama! Vamos dominar o mundo. Bem, boa sorte, não conte comigo, a minha vida não mudou em absolutamente nada, tudo são flores, quanto ao outro lado do muro, esse eu só vejo no jornal e nas aulas do Nonato. Eu vou sempre me preocupar mais como o meu cabelo está do que com o sistema financeiro mundial. You made your mess, clean it up, bitch.
[...]
Veio o recreio e eu fui curtir o meu tempo com o Buk, a biblioteca finalmente abriu, eu peguei alguns livros que vou levar amanhã, entre eles O cortiço e um de Matrizes, de Matemática, o sistema ainda não estava no ar por isso não se estava alugando livros. Eu amo bibliotecas. Definitivamente. A Letícia gastou uns minutos discutindo qualquer coisa com a Suellen, a bibliotecária e eu fiquei imersa no Bukowski, grifando, grifando e grifando
[...]"
Um trecho bem censurado do meu diário que eu chamo carinhosamente de Saco de Vômito. Aí algumas coisas que eu grifei do Buk:
" Tente se sentir melhor, o mundo inteiro é um saco de merda rasgando. Não posso salvá-lo "
" Às vezes me sinto como se estivéssemos todos presos num filme. Sabemos nossas falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim "
Engraçado que quando eu ia saindo do colégio com dois livros na mão que eu me dei conta de como meu gosto literário anda promíscuo: eu tinha Bukowski e O Cortiço na mão. Comentei isso com a Letícia, e ela chegou a seguinte conclusão:
- Tu é imoral e amoral, definitivamente.
Quem lê Bukowski nunca mais se recupera então...
Eu venho marcando os meus livros com aqueles foguetinhos que brilham no escuro que a gente prega na parede quando tem 10 anos, eu tinha um astronauta, o foguete e umas estrelas, perdi o astronauta e as estrelas e me sobrou só um foguete que me lembra diretamente, sem desvios, o Gargárin e o olhar de despedida dele.
...
É.
Imoral e amoral. E péssima.
Foram duas aulas seguidas do Nonato, ele falou sobre a crise, o inédito déficit econômico do Brasil em sete anos ou mais, e eu fiquei pensando em como todo mundo pôs a corda no pescoço, nós, sendo engolidos pelo próprio sistema capitalista neoliberal. Em pensar que foram relativos trinta anos mundiais de prosperidade, oh, chegamos a um fim. O que me faz achar esse tipo de poder muito patético e me faz pensar sobre as épocas em que o poder obedecia a outras variáveis, a nobreza do sangue, ao tamanho de um exército, à quantidade de terras... Devia ser mais fácil sobreviver, devia ser fácil controlar, tudo o que nós temos agora é o Barak Obama tentando salvar o mundo. Você está pensando o que eu estou pensando, Pinky? Sim, Obama! Vamos dominar o mundo. Bem, boa sorte, não conte comigo, a minha vida não mudou em absolutamente nada, tudo são flores, quanto ao outro lado do muro, esse eu só vejo no jornal e nas aulas do Nonato. Eu vou sempre me preocupar mais como o meu cabelo está do que com o sistema financeiro mundial. You made your mess, clean it up, bitch.
[...]
Veio o recreio e eu fui curtir o meu tempo com o Buk, a biblioteca finalmente abriu, eu peguei alguns livros que vou levar amanhã, entre eles O cortiço e um de Matrizes, de Matemática, o sistema ainda não estava no ar por isso não se estava alugando livros. Eu amo bibliotecas. Definitivamente. A Letícia gastou uns minutos discutindo qualquer coisa com a Suellen, a bibliotecária e eu fiquei imersa no Bukowski, grifando, grifando e grifando
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Um trecho bem censurado do meu diário que eu chamo carinhosamente de Saco de Vômito. Aí algumas coisas que eu grifei do Buk:
" Tente se sentir melhor, o mundo inteiro é um saco de merda rasgando. Não posso salvá-lo "
" Às vezes me sinto como se estivéssemos todos presos num filme. Sabemos nossas falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim "
Engraçado que quando eu ia saindo do colégio com dois livros na mão que eu me dei conta de como meu gosto literário anda promíscuo: eu tinha Bukowski e O Cortiço na mão. Comentei isso com a Letícia, e ela chegou a seguinte conclusão:
- Tu é imoral e amoral, definitivamente.
Quem lê Bukowski nunca mais se recupera então...
Eu venho marcando os meus livros com aqueles foguetinhos que brilham no escuro que a gente prega na parede quando tem 10 anos, eu tinha um astronauta, o foguete e umas estrelas, perdi o astronauta e as estrelas e me sobrou só um foguete que me lembra diretamente, sem desvios, o Gargárin e o olhar de despedida dele.
...
É.
Imoral e amoral. E péssima.
Comentários
Rianne tendo um 'momento' na biblioteca e eu chego e tento ler as coisas da MÍNIMA agenda dela. Acho que faz isso de propósito.
Eu também vou me preocupar mais com outras coisas do que com o sistema financeiro mundial.
Nos chamem do que quiserem.É a pura verdade.