Caro leitor,
Eu não fui a lugar nenhum. Nem sequer me mudei. Nenhum furacão desde Novembro do ano passado. O que aconteceu se explica com muito latim e muita insônia (chama-se: plantões, tardes revirando cadáveres em um laboratório, cansar os olhos com microscópios).
E você que se interessa sem ao menos me conhecer, que é mesmo assim tão apaixonado por uma bonita ordem de palavras? Admiro. E admiro sem ironia a gente que tem o tempo e a paixão e o tempo para ter a paixão, obviamente não são médicos.
Eu admiro quem ama a palavra.
Sigo em anos de busca, e totalmente suspeita, repito: quem é que vai superar esse português? Todo enfeitado com acentos que desde a pouca idade sempre vi como "jóias", deveriam imaginar que bonito foi entender e saber escrever as palavras "avô" e "avó". Cada um com uma jóia diferente. Um enfeite.
Aliás, o cidadão-leitor deveria imaginar a minha caminhada ofendida do passo forte na rua Novaya Arbatskaya, em direção ao metrô, depois de um encontro indesejável em uma livraria. O cidadão-leitor não imagina como se contorcem os intestinos (e até o a''pêndice que me tiraram!) ao ver uma obra de Saramago traduzida para o russo. Para que diabos? Eu me perguntava, e parei aí mesmo, Saramago seria o primeiro a fazer críticas com referências religiosas, mas ele que me perdoe, deve ser a infãncia em um colégio católico (e o todo o ateísmo que aí aprendi).
O que fazer, cidadão-leitor, e agora me direciono mais diretamente: o que fazer, cidadão-leitor-também-expatriado, quando milhões ao seu redor não têm a mínima idéia de como flue essa língua? Sentir pena por estes que nunca a vão escutar, ou que a escutem, está bem, mas nunca a vão entender?
As navegações acabaram.
Mas eu sigo insistidamente percorrendo o mundo com meu português, de avião é verdade, com menos vento, mas não sem menos poesia (dos olhos doídos de ler livros em tela de computador pela falta dos de papel a venda em um país que sequer adota o seu alfabeto).
E é isso que eu diria ao leitor-anônimo, assim que meio que enquanto se espera o ônibus, inesperadamente, exatamente naquele momento que você não espera mais nada da vida senão um ônibus e ela te surpreende com uma charla boa, com a análise da densidade das palavras.
E o ônibus, finalmente.
Pontuo.
Eu não fui a lugar nenhum. Nem sequer me mudei. Nenhum furacão desde Novembro do ano passado. O que aconteceu se explica com muito latim e muita insônia (chama-se: plantões, tardes revirando cadáveres em um laboratório, cansar os olhos com microscópios).
E você que se interessa sem ao menos me conhecer, que é mesmo assim tão apaixonado por uma bonita ordem de palavras? Admiro. E admiro sem ironia a gente que tem o tempo e a paixão e o tempo para ter a paixão, obviamente não são médicos.
Eu admiro quem ama a palavra.
Sigo em anos de busca, e totalmente suspeita, repito: quem é que vai superar esse português? Todo enfeitado com acentos que desde a pouca idade sempre vi como "jóias", deveriam imaginar que bonito foi entender e saber escrever as palavras "avô" e "avó". Cada um com uma jóia diferente. Um enfeite.
Aliás, o cidadão-leitor deveria imaginar a minha caminhada ofendida do passo forte na rua Novaya Arbatskaya, em direção ao metrô, depois de um encontro indesejável em uma livraria. O cidadão-leitor não imagina como se contorcem os intestinos (e até o a''pêndice que me tiraram!) ao ver uma obra de Saramago traduzida para o russo. Para que diabos? Eu me perguntava, e parei aí mesmo, Saramago seria o primeiro a fazer críticas com referências religiosas, mas ele que me perdoe, deve ser a infãncia em um colégio católico (e o todo o ateísmo que aí aprendi).
O que fazer, cidadão-leitor, e agora me direciono mais diretamente: o que fazer, cidadão-leitor-também-expatriado, quando milhões ao seu redor não têm a mínima idéia de como flue essa língua? Sentir pena por estes que nunca a vão escutar, ou que a escutem, está bem, mas nunca a vão entender?
As navegações acabaram.
Mas eu sigo insistidamente percorrendo o mundo com meu português, de avião é verdade, com menos vento, mas não sem menos poesia (dos olhos doídos de ler livros em tela de computador pela falta dos de papel a venda em um país que sequer adota o seu alfabeto).
E é isso que eu diria ao leitor-anônimo, assim que meio que enquanto se espera o ônibus, inesperadamente, exatamente naquele momento que você não espera mais nada da vida senão um ônibus e ela te surpreende com uma charla boa, com a análise da densidade das palavras.
E o ônibus, finalmente.
Pontuo.
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