Fazia dois meses que eu estava na Rússia e tudo e todos ainda eram ETs se aproximando por um contato de quarto grau. Eu poderia divagar sobre a sensação de ser uma expatriada, mas seria tão inútil como descrever o gosto de chocolate, com tantos sentidos envolvidos. E lá eu estava, na frente de toda a escola recitando um poema no Dia dos Professores, que é realmente importante na Rússia. Eles podem até não ganhar bem, mas o respeito que recebem dos alunos é infinitamente maior que no Brasil. Dirigir-se a eles apenas levantando a mão, e pelo nome e patronímio (o segundo nome de todo russo: nome do pai + sufixo OVA ou VICH se, respectivamente, você for mulher ou homem). Os alunos haviam preparado um verdadeiro espetáculo, a platéia era pequena: apenas a equipe de professores, e o backstage se apertava com todos os alunos da escola. No dia anterior eu havia passado cinco horas andando em círculos aprendendo um poema que recito até sob remédio de dormir, ainda hoje em dia. Skol'ko vesen...