Era o meu primeiro dia de inverno. Era o meu primeiro dia de Costa Leste. Era tudo novo e eu ia absorvendo as emoções e moldando um estado de espírito que deveria resistir ao frio, às nebrascas e observando atentamente os flocos de neve geométricos, a perfeição da natureza e tentando, nem que sob ordem judicial, me convencer de que, por que não, eu fazia parte daquela harmonia.
E tinha essa tampa canadense. E todas as crianças queriam saber quem eu era. Eu sou brasileira, oi, tudo bem, é meu primeiro dia na Fountain Woods. E tinha essa tampa canadense no chão, que insistia em aparecer debaixo de tanta neve e eu ignorei a nebrasca e tudo que existia de vivo e ficamos eu e ela, envolvidas em um desses momentos da infância que as emoções constituem as memórias e não as imagens. Guardei-a no bolso e peguei o ônibus da escola. O motorista queria saber sobre mim, entre mil papéis colados pelo ônibus com 330 "THINGS YOU CAN'T DO IN THE SCHOOL BUS: NO YELLING, NO... NO... NO...", existia a pessoa simpática. Por que ele se escondia? E ele tinha esse bigode e esse cabelo branco, usava sempre roupas velhas e eu não consiga me livrar da expressão do rosto dele.
A professora se impressionava porque a tabuada era algo que saía na urina pra mim. Era tudo tragável e o almoço estava ótimo, eu amava a perfeição social em que eu vivia, minha escola era pública, meu almoço era dado pelo governo e aquele lugar me fazia não querer ir pra casa. Eu tinha centenas de cursos para escolher fazer: chaveiros, costurar, hockey, futebol, música, grupo de leitura. I was fuckin dazzled.
Tinha o Hupert, o chinês e nós nos dávamos muito bem. O primeiro foi só a introdução do segundo e assim se seguiu, um superando o outro. Os dias.
Eu tinha aprendido que o capitalismo era a melhor coisa do mundo. E era. Em que outro lugar do mundo eles venderiam tudo por 99 cents?
Eu rodava por Cherry Hill, Riverside, Philadelphia, Trenton...
E eu era parte daquela geometria toda.
Eu não sei o que eu quero dizer, talvez eu esteja aqui desde a primeira linha tentando descrever o sentimetno que me envolvia quando eu vivia no melhor lugar do mundo e não sabia, mas eu sei que eu vou falhar e que ninguém vai entender. As emoções que remontam as lembranças são só minhas e infelizmente eu não sei convertê-las de neurônios para bits e jogar tudo aqui.
E gastei meu tempo tentando falar do indescritível.
De novo.
E meus dedos têm essa sensação nova quando eu largo o violino depois de tocar. Isso eu também não sei descrever, deve ser a música se fundindo, e Beethoven sabe como fazer isso acontecer.
Ontem... eu dormi sorrindo.
Foi um sorriso de adeus. De satisfação, de quem carimba uma fase da vida pela última vez. Então a Dolly começou a arranhar a porta e eu, comecei a rir da simplicidade que a vida tem quando se faz um esforço.
Quanta besteira pra se falar.
Pior que tem gente que lê e acha algum sentido. É, é, o sentido deve estar por aí.
ABRIL é o meu mês favorito.
E lá vou eu dar carona pros meus devaneios de novo.
E tinha essa tampa canadense. E todas as crianças queriam saber quem eu era. Eu sou brasileira, oi, tudo bem, é meu primeiro dia na Fountain Woods. E tinha essa tampa canadense no chão, que insistia em aparecer debaixo de tanta neve e eu ignorei a nebrasca e tudo que existia de vivo e ficamos eu e ela, envolvidas em um desses momentos da infância que as emoções constituem as memórias e não as imagens. Guardei-a no bolso e peguei o ônibus da escola. O motorista queria saber sobre mim, entre mil papéis colados pelo ônibus com 330 "THINGS YOU CAN'T DO IN THE SCHOOL BUS: NO YELLING, NO... NO... NO...", existia a pessoa simpática. Por que ele se escondia? E ele tinha esse bigode e esse cabelo branco, usava sempre roupas velhas e eu não consiga me livrar da expressão do rosto dele.
A professora se impressionava porque a tabuada era algo que saía na urina pra mim. Era tudo tragável e o almoço estava ótimo, eu amava a perfeição social em que eu vivia, minha escola era pública, meu almoço era dado pelo governo e aquele lugar me fazia não querer ir pra casa. Eu tinha centenas de cursos para escolher fazer: chaveiros, costurar, hockey, futebol, música, grupo de leitura. I was fuckin dazzled.
Tinha o Hupert, o chinês e nós nos dávamos muito bem. O primeiro foi só a introdução do segundo e assim se seguiu, um superando o outro. Os dias.
Eu tinha aprendido que o capitalismo era a melhor coisa do mundo. E era. Em que outro lugar do mundo eles venderiam tudo por 99 cents?
Eu rodava por Cherry Hill, Riverside, Philadelphia, Trenton...
E eu era parte daquela geometria toda.
Eu não sei o que eu quero dizer, talvez eu esteja aqui desde a primeira linha tentando descrever o sentimetno que me envolvia quando eu vivia no melhor lugar do mundo e não sabia, mas eu sei que eu vou falhar e que ninguém vai entender. As emoções que remontam as lembranças são só minhas e infelizmente eu não sei convertê-las de neurônios para bits e jogar tudo aqui.
E gastei meu tempo tentando falar do indescritível.
De novo.
E meus dedos têm essa sensação nova quando eu largo o violino depois de tocar. Isso eu também não sei descrever, deve ser a música se fundindo, e Beethoven sabe como fazer isso acontecer.
Ontem... eu dormi sorrindo.
Foi um sorriso de adeus. De satisfação, de quem carimba uma fase da vida pela última vez. Então a Dolly começou a arranhar a porta e eu, comecei a rir da simplicidade que a vida tem quando se faz um esforço.
Quanta besteira pra se falar.
Pior que tem gente que lê e acha algum sentido. É, é, o sentido deve estar por aí.
ABRIL é o meu mês favorito.
E lá vou eu dar carona pros meus devaneios de novo.
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