Ela não podia ir lá fora, algum ser desfigurado na noite passada havia personificado os medos de uma criança. Se era vermelho, não lembrava, a verdade é que o era e isso já corroia, independente da geometria e aquarela que viesse a adotar. Pôs-se a chorar, não sabia da onde vinha aquela vontade incontrolável de simplesmente berrar e resgatar gotinhas do mar. A verdade é que respirar ficava mais fácil. E ela repetia a sensação de medo dessa memória de nove anos atrás. Há pouco tempo fizera dezoito. Tudo parecia tão longe e tudo era uma eternidade, com barreiras, mas ela insistia em chamar aquela linhazinha do tempo que era a sua vida de eternidade com limites - fosse lá o que isso queria dizer. Lembrou-se daquele dia longíquo num bairro de infância que pela mania humana de romantizar o passado, a recordava de uma infância com muita neve, rinite na primavera, a chinesa magra demais que vendia comida em caixinha, joelhos ralados e casuais furtos de batata frita da fábrica não muito longe,...